Granma: Fidel é Cuba, Cuba é Fidel

É quase impossível falar de Cuba hoje sem falar de Fidel, assim como é impossível encontrar qualquer esfera da vida interna e da projeção internacional da Ilha maior das Antilhas nas quais a marca de Fidel não esteja presente

Homenagem a Fidel Castro feita pelo Pravda, em 1963

Como se para nos alertar de que se tratava apenas de uma nova viagem em direção a outros horizontes de luta e épico revolucionário, o destino quis dotar a data da morte do Comandante de grande simbolismo, ocorrida em 25 de novembro de 2016, precisamente 60 anos após o Líder da Revolução Cubana, desafiando todas as impossibilidades, lançou-se ao mar, no porto de Tuxpan, no iate Granma com seus camaradas, determinado a libertar a pátria do jugo opressivo ao preço de suas próprias vidas.

Desde suas lutas na Universidade de Havana até seu último suspiro, Fidel era conhecido por dizer o que pensava e fazer o que dizia; em 8 de janeiro de 1959 ele havia dito em um discurso histórico no acampamento Columbia: “Sei, além disso, que nunca mais em nossas vidas testemunharemos tal multidão, exceto em outra ocasião (…) e esse é o dia em que morreremos, porque (…) nunca mais decepcionaremos nosso povo!”.

E essas multidões se reuniram novamente por toda Cuba para despedir-se e honrar seu líder no momento de sua partida física, pois Fidel nunca traiu a confiança de seu povo. Antes de morrer, ele deixou claro seu último desejo: não queria que nem ruas nem monumentos levassem seu nome, uma lição de vida e uma expressão da mais extraordinária qualidade que um revolucionário pode ter: simplicidade, onde está a verdadeira grandeza.

Meses antes, em 19 de abril, ele havia proferido seu último discurso público, no 7º Congresso do Partido, palavras que ainda hoje nos fazem estremecer quando as lemos ou ouvimos. Foi uma espécie de despedida, não uma despedida lúgubre, mas um novo apelo ao combate, carregado do espírito da vitória.

“Em breve terei 90 anos, nunca teria pensado em tal ideia e nunca foi o resultado de um esforço; foi um capricho do acaso. Em breve serei como todos os outros. Todos teremos nossa vez, mas as ideias dos comunistas cubanos permanecerão como prova de que neste planeta, se trabalharmos com fervor e dignidade, poderemos produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos necessitam, e devemos lutar incansavelmente para obtê-los. Devemos transmitir aos nossos irmãos da América Latina e do mundo que o povo cubano vencerá. Empreenderemos a marcha e aperfeiçoaremos o que devemos aperfeiçoar, com lealdade meridiana e força unida, como José Martí, Antonio Maceo e Máximo Gómez, em uma marcha imparável.”

Tal era Fidel, um incansável lutador em pensamento e ação, pronto para dedicar toda sua existência à causa dos humildes deste mundo, à emancipação humana de toda a dominação e discriminação possível. Martiano até o âmago, ele assumiu o marxismo e o leninismo dessas profundas raízes cubanas, e o enriqueceu com uma prática política original e antidogmática. Ele também se tornou um guerrilheiro neste campo.

Ele era um estadista político de estatura universal, mas também um ser transbordante de sensibilidade humana. Ele sempre valorizou a singularidade de cada ser humano, com suas faltas e virtudes, mas sempre promoveu estas últimas no interesse da Revolução. Soube ser ético, mesmo com seus adversários, desde suas lutas na Serra Maestra; ele não podia conceber a política sem ética.

Fidel foi também o maior promotor da solidariedade e do internacionalismo cubano, sendo sempre muito claro que a solidariedade não só ajuda e liberta quem a recebe, mas também – e em muitas ocasiões ainda mais – a quem a oferece. Não foi por nada que ele disse em um de seus brilhantes discursos: “A liberdade é conquistada através da solidariedade”.

Ele colocou Cuba no mapa do mundo e, ao mesmo tempo, através de sua liderança, contribuiu para mudar a geografia de outras regiões importantes do mundo em favor da independência e de ideias progressistas. Sem dúvida, um dos maiores legados de Fidel foi ter conseguido tecer com paciência e sabedoria a unidade das forças revolucionárias, antes e depois do triunfo, fruto do qual nasceu nosso glorioso Partido Comunista de Cuba.

Fidel rebelou-se e praticou heresias diante do imperialismo norte-americano, mas também diante de impossibilidades, dogmas, verdades estabelecidas e derrotismos. Ele irradiava confiança e otimismo na vitória. Quanto mais difíceis as circunstâncias, mais firme se tornou sua vontade de lutar.

Ele sabia como transformar o revés em vitória e o impossível em possibilidade infinita. Um senso de honra, patriotismo e apego a princípios eram para ele uma questão de vida ou morte. Ele concebeu o socialismo como a ciência do exemplo pessoal. Ele sabia como se aproximar de cada conjuntura com flexibilidade tática, mas sem perder o mapa do caminho para o destino estratégico. Ele tratou de todas as questões e situações até o menor detalhe. Ele era, sem dúvida, um mestre na arte da política.

O Comandante, o Chefe, o Cavalo, o Caguairán, é assim que nos referimos àquele que não concebeu a derrota enquanto havia uma chance de lutar, aquele que nos ensinou a resistir, mas, acima de tudo, nos ensinou a vencer.

Fidel nos deixou tudo isso e muito mais, o que explica porque é quase impossível falar de Cuba hoje sem falar de Fidel, assim como é impossível encontrar qualquer esfera da vida interna e da projeção internacional da Ilha maior das Antilhas nas quais a marca de Fidel não esteja presente.

Como o mais fidelista dos cubanos, o general-de-exército Raúl Castro tem dito desde 1959: “Fidel está onde quer que trabalhemos, Fidel está espiritualmente onde quer que a Revolução avance. Fidel está onde quer que uma intriga seja destruída, onde quer que um cubano esteja trabalhando honestamente, onde quer que um cubano, seja ele quem for, esteja fazendo o bem, onde quer que um cubano, seja ele quem for, esteja defendendo a Revolução, Fidel estará lá”.

Publicado no Granma (órgão oficial do Partido Comunista de Cuba) nesta quinta-feira (25), por ocasião dos cinco anos da morte de Fidel