Lava Jato abriu porta para o desmonte da Petrobras, diz Sérgio Gabrielli

O ex-presidente da estatal responsabilizou a Lava Jato por inviabilizar a expansão das refinarias no Brasil

(Foto: Reprodução)

O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli diz que a disparada dos preços dos combustíveis é “consequência inevitável” de uma política imposta à Petrobras desde 2015. Na ocasião, ele lembrou do papel decisivo desempenhado pelos procuradores da Lava Jato na política de desmonte da indústria nacional e do petróleo.

“Se você abre o país para mais importação, se você diminui o uso do petróleo nacional, porque aumenta a exportação do petróleo cru e não processa o petróleo cru nas refinarias, que não estão crescendo – aliás, a expansão das refinarias foi inviabilizada com a Lava Jato –, você tem uma situação em que o país passa a ser dependente do mercado internacional”, explicou o economista em entrevista a Paulo Moreira Leite, no programa Sexta-feira 13h, do canal TVPT no Youtube.

“Tudo foi feito para que o país ficasse mais dependente dos preços internacionais, porque aumentou-se muito a importação de derivados, algumas refinarias foram desativadas e em outras reduziram a utilização, foram criados mais de 400 importadores de derivados no país e a Petrobras está desmontando seu parque de refino”, elenca.

Nesse momento em que “você tem simultaneamente o aumento do preço internacional e a depreciação do real”, constata Gabrielli, a dolarização promovida desde o golpe de 2016 faz a explosão de preços ser inexorável.

“Nós vivemos, de 2006 a 2012, um período de altos preços de petróleo. O preço chegou a US$ 140 o barril em 2010, 2011 (US$ 82 na cotação atual). A gasolina brasileira não bateu recorde naquela época. Por quê? Porque a Petrobras administrava os aumentos”, ressalta o economista.

“A Petrobras não se desconectou completamente do preço internacional porque não pode, o Brasil é um país aberto, mas você não precisa passar todo dia o aumento dos preços para o consumidor”, prossegue. “Você não precisa fazer isso, principalmente se você tem produção nacional, em que seu custo é muito baixo, em reais.”

A prática de ajustar quase cotidianamente o preço da gasolina e do diesel acelerou os reajustes domésticos, estourou os preços e criou a situação atual, diz Gabrielli. “O que nós temos hoje é a inviabilidade dessa política no médio e longo prazo e acusações absolutamente falsas, em que a parte é responsável pelo todo. Ou seja, não se pode atribuir a variação do preço à percentagem fixa do preço da bomba, que é o ICMS.”

Segundo ele, o grande problema no curto prazo é o atrelamento acelerado dos preços domésticos aos preços internacionais, mas no médio e longo prazo o país está condenado a um problema grave, atrelando-se mais e mais ao mercado internacional.

“Não podemos esquecer de mudar a política geral de abastecimento. Se o Brasil voltar a crescer um pouquinho, estoura a capacidade de refino do país. Nós estamos no limite porque não criamos capacidade de produção de derivados de petróleo”, alerta.

Para Gabrielli, que era o presidente da Petrobras quando as reservas do pré-sal foram confirmadas, a estatal caminha rapidamente para se transformar de uma empresa integrada “do poço ao posto” em mera exportadora de óleo cru.

Com informações do PT Nacional

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