Mais um apagão de dados. Empregos criados em 2020 eram fake news

Caged revisa dados e número de vagas criadas em 2020 recua de 142.690 para 75,9 mil

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Têm sido frequentes os problemas com a divulgação de dados fundamentais do Governo Federal para a definição de políticas públicas. Os dados da pandemia que ajudam especialistas e gestores públicos a antecipar protocolos e políticas para o combate à covid-19 em estados e municípios sofreram vários apagões ou irregularidades técnicas que colocaram as estatísticas sob suspeita. Agora é a vez da taxa de empregos e desempregos.

A revisão de dados de demissões fez o saldo de criação de empregos formais no Brasil cair pela metade em 2020. Pelas novas estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram abertas 75.883 vagas no ano passado, queda de 46,8% em relação ao dado anterior de 142.690 vagas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou, à época, a suposta geração de empregos em plena explosão da pandemia e lockdowns.

É preciso mencionar, também, que, em março de 2020, pouco depois do início da pandemia de covid-19, o Ministério da Economia, na época responsável pelo eSocial e o Caged, suspendeu a divulgação das estatísticas por dois meses, alegando problemas técnicos. Os números só voltaram a ser apresentados no fim de maio de 2020.

Especialistas dizem que a cada alteração da metodologia de registro no Caged, como ocorreu em março de 2020, fica mais complicado ou impossibilita a comparação com dados de anos (e governos) anteriores. Naquele apagão da Caged, a nova metodologia passou a incluir trabalhadores temporários e bolsistas, o que também representa uma “pedalada” nos dados de empregos.

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O indicador da Caged mede a diferença entre contratações e dispensas com carteira assinada. Inicialmente, o Caged apontava que haviam ocorrido 15.166.221 admissões e 15.023.531 desligamentos no ano passado. Com as revisões, o número de contratações subiu 1,8%, para 15.361.234. As demissões aumentaram 2,2%, para 15.437.117.

Responsável pelo Caged desde a recriação da pasta, em julho, o Ministério do Trabalho e Previdência atribuiu a redução do saldo ao envio de declarações fora do prazo, em meio ao início da pandemia de covid-19 e a adaptação para o novo modelo de declaração eletrônica.

Novo eSocial

Até 2019, as contratações e as demissões eram informadas manualmente. Em janeiro de 2020, o processo passou a ser realizado de forma eletrônica, por meio da Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial).

Quando houve a suspensão das estatísticas em março de 2020, o Ministério da Economia, na ocasião, alegou que, durante o processo de adaptação ao novo sistema, diversas declarações de demissões foram preenchidas de forma errada e que o processo de retificação foi comprometido pela pandemia.

Até aquele momento, apenas os dados do Caged de dezembro de 2019 haviam sido divulgados. Os números só voltaram a ser apresentados no fim de maio de 2020, com os dados de janeiro a abril do mesmo ano. 

Justificativa

Em nota, o Ministério do Trabalho e Previdência, informou que, mesmo com a revisão dos dados, 2020 continuou a registrar criação de empregos formais. “Ressaltamos que, mesmo com a mencionada revisão, o saldo do Caged de 2020 se mantém positivo, em que pese o pior momento da pandemia da covid-19”, destacou a pasta. Segundo o ministério, o prazo para ajustes dos dados do ano passado acaba no fim de 2021.

“A entrada de dados fora do prazo acontece quando as empresas declaram as informações de admissão e demissão após a competência em que a movimentação se realizou. A possibilidade de realizar esse tipo de declaração já existia no antigo Caged, havendo uma ocorrência um pouco maior neste momento devido ao processo de transição para a declaração via eSocial, que ocorreu para um número significativo de empresas ao longo de 2021”, acrescentou o Ministério do Trabalho e Previdência.

Com informações da Agência Brasil.