G20, Conferência sobre o Clima e o obsoleto capitalismo

Neste fim-de-semana haverá reunião do G20 na Itália, a que se seguirá a Conferência sobre o Clima, no Reino Unido. Destes dois encontros sairão inúmeras declarações, intenções e até aparentes decisões, contudo aquilo que será mais visível nestes dois momentos são as profundíssimas contradições e problemas que percorrem o sistema dominante – o capitalismo.

A ausência física dos presidentes chinês e russo na reunião do G20 não deixa de ser desde logo um importante sinal dos tempos que vivemos. Justificada com preocupações sanitárias, é naturalmente inseparável da estratégia das principais potências imperialistas – com os EUA à cabeça – de crescente confrontação com estes dois países.

Mas este posicionamento dos EUA e da União Europeia não significa uma postura de força por parte do eixo imperialista transatlântico. O Mundo está a ser percorrido por graves problemas que se vêm juntar às já graves consequências da pandemia da COVID-19. Instabilidade e episódios de ruptura nas cadeias de abastecimento, subida generalizada da inflação, instabilidade nos mercados financeiro e imobiliário e crise energética são alguns dos problemas que estão longe de ser transitórios.

Aquilo que tais tendências demonstram é instabilidade e fragilidade no funcionamento da economia capitalista e incapacidade de lidar com problemas sérios como as questões ambientais. Os sinais que se vinham manifestando antes da eclosão da pandemia estão aí todos e a aprofundar-se em função de problemas estruturais que afetam as principais economias capitalistas do Mundo e do brutal aumento das desigualdades entre países e entre classes, bem patente nos escandalosos dados de aumento da riqueza dos milionários nos EUA e na Alemanha, para dar apenas dois exemplos

E é aqui que reside um dos grandes elefantes na sala destas duas reuniões. Todas as estratégias definidas (quer nos EUA quer na União Europeia) para ultrapassar dificuldades parecem não ter surtido resultados e os problemas globais, como a chamada crise energética e a instabilidade nas cadeias de abastecimento, impactam nestas duas realidades econômicas de forma violenta. Nos EUA, passada a propaganda inicial do mandato de Biden, a realidade econômica vai ficando clara, com uma grande instabilidade no mercado laboral, com a inflação a atingir o valor mais alto dos últimos 13 anos, com o Estado norte-americano a atingir níveis recordes de endividamento e com o espectro do fim dos “estímulos” da FED (o célebre quantitative easing) e da subida das taxas de juro. O cenário de estagnação econômica com alta inflação é apontado por alguns economistas.

Já a União Europeia permanece mergulhada num mar de contradições a que se vieram somar as resultantes da crise energética e de aumento dos preços. Como a ausência de reais conclusões no último Conselho Europeu demonstram, as divisões no bloco imperialista são mais que muitas e não há discursos em torno da “transição energética justa” que lhe valham. São tantas que obrigaram Merkel a ter de intervir para não se chegar a “vias de facto” na questão da Polônia – utilizada não para defender direitos e democracia mas para os atacar e ensaiar renovadas formas de ataque à soberania dos Estados.

O Mundo está a mudar, e é uma evidência que as velhas potências imperialistas estão numa tendência de declínio, que é no fundo o espelho da decadência do obsoleto sistema capitalista.

Fonte: Avante!

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