Novo partido terá maior bancada e representação da direita em 20 anos

Para Glauco Peres, apesar da incerteza do tamanho que a União Brasil (fusão do DEM com PSL) poderá ter, possui o potencial de ocupar um espaço vazio na representação política da direita

União Brasil pretende fundir PSL e Democratas, podendo se tornar o maior partido de direita.

A União Brasil, partido criado pela fusão das legendas Democratas (DEM) e Partido Social Liberal (PSL), foi anunciada este ano. O novo partido terá a maior bancada no Congresso Nacional e a maior representação da direita no Brasil em 20 anos. A agremiação irá desempenhar um papel importante nas eleições de 2022, podendo ocupar um espaço ainda vazio no pleito.

“Do lado da direita, a gente não tinha nenhum partido que tenha cumprido esse papel, ter conseguido angariar os votos do eleitorado de uma maneira sistemática”, contou o professor Glauco Peres, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Segundo o professor, a esquerda no Brasil, principalmente o Partido dos Trabalhadores (PT), desde 1989, vem conseguindo coordenar os votos de uma base eleitoral que se mantém forte, apesar do abalo provocado pela Lava Jato. Com a figura de Lula exercendo sua influência, esse protagonismo do PT entre o eleitorado progressista continua, conforme apontam as pesquisas de opinião pública.

Em termos de busca por uma terceira via, o professor considera difícil que Ciro Gomes consiga disputar esse voto do PT de forma significativa. Por outro lado, embora não seja desprezível a intenção de voto em Bolsonaro, sua rejeição e risco de não se reeleger abriria caminho para um candidato de centro-direita, que busque o voto de eleitores que repudiam a esquerda, mas que vê em Bolsonaro um governo ruim. “Muita gente, além da União Brasil, vai pleitear esse espaço, como o PSD com Rodrigo Pacheco e o PSDB com João Dória”, sugeriu.

Com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, houve a possibilidade da criação de uma base de igual representatividade à direita. Ele manteve esse vácuo ao não se importar com a política partidária, tendo saído do partido que o elegeu. Assim, deixou o caminho livre para a União Brasil ter essa oportunidade. Um partido que já nasce no parlamento com muitos deputados, senadores e governadores.

“Surgiu um eleitorado mais a direita, com discurso de ‘sou de direita’. Isso também é relativamente novo, uma novidade, porque não era muito claro no País”, explica Peres sobre o aumento da direita no espectro político após o pleito de 2018. Havia uma percepção de “direita envergonhada” no Brasil, até então.

De acordo com ele, atualmente há um espaço político a ser ocupado, que permitiria que um candidato se posicione à direita. Com o crescimento da rejeição da presidência de Bolsonaro e dos ataques coordenados contra a esquerda, existe um vácuo que poderia conquistar os votos de eleitores. A disputa entre diferentes legendas para a presidência será a mais concorrido das eleições de 2022. 

Na questão do Congresso, o tamanho da representação que a nova legenda pode ocupar é uma incógnita. Para o professor, políticos filiados ao DEM e ao PSL irão aproveitar-se da fusão para trocar de partido.

Outro fator que pode interferir na manutenção da atual representação é a tradição eleitoral que cada partido tem. Por mais que o Democratas possua um histórico sólido de representação no País, o PSL cresceu vertiginosamente por conta da filiação de Bolsonaro em 2018, fenômeno que aparentemente não se repetirá em 2022, colocando em dúvida o tamanho que a bancada da União Brasil poderá ter no próximo pleito.

“A União Brasil é favorito para ter uma bancada grande; a eleição será a primeira prova de fogo para a gente saber o que vai acontecer”, analisa Peres. No entanto, com o surgimento de candidatos como Sérgio Moro disputando o espectro à direita, corre o risco do novo partido continuar sendo uma agremiação parlamentar, sem a referencialidade de coordenação dos votos à direita.

Edição de entrevista à Rádio USP

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