Copom eleva juros ao maior nível para 7,75% ao ano

Após crise na equipe econômica por discordâncias com quebra no teto de gastos, Guedes pressionou o Banco Central “autônomo” a aumentar juros para agradar o mercado.

Sindicalistas comparam aumento dos juros a dar uma banana ao emprego. 2016 - Divulgação

Em meio ao aumento da inflação de alimentos, combustíveis e energia, o Banco Central (BC) apertou ainda mais os cintos na política monetária 1,50 pontos a mais, depois de um longo período com quedas e depois cinco aumentos graduais. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic, juros básicos da economia, de 6,25% para 7,75% ao ano.

A taxa está no nível mais alto desde outubro de 2017, quando também estava em 8,25% ao ano, tendo chegado a 2%, patamar que permaneceu até janeiro deste ano. Esse foi o sexto reajuste consecutivo na taxa Selic. De março a junho, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, o reajuste passou para 1,25 ponto em setembro.

Com a decisão de hoje (27), a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018.

A Selic voltou a ser reduzida em agosto de 2019 até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986. O objetivo da redução em momento de retração é estimular o crédito, a produção e o consumo.

Com o aumento, o objetivo é o oposto, ao desestimular o consumo e o crédito e garantir demanda para reduzir a inflação. O problema é que com isso vem junto recessão econômica com desemprego. Quem se beneficia da alta são investidores, conforme as aplicações passem a render mais, desfavorecendo a circulação do dinheiro.

Esse foi o maior aperto monetário em quase 20 anos. A última vez em que o Copom tinha elevado a Selic em mais de 1 ponto percentual tinha sido em dezembro de 2002. Na ocasião, a taxa tinha passado de 22% para 25% ao ano, com alta de 3 pontos.

Inflação

O Banco Central trata a Selic como o principal (e praticamente único) instrumento para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em setembro, o indicador fechou no maior nível para o mês desde 1994 e acumula 10,25% em 12 meses, pressionado pelo dólar, pelos combustíveis e pela alta da energia elétrica.

A mudança na política de preços da Petrobras, alterada em 2016, seria uma boa iniciativa para controlar o aumento de combustíveis, que afetam toda a cadeia produtiva. Da mesma forma, o controle das exportações de alimentos na pandemia, como fizeram outros países, também teria efeito sobre a inflação destes itens. A privatização dos armazéns da Conab também impediu a formação de estoques reguladores de grãos, por exemplo, além do desmonte do Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Investimentos em geração de energia estão interrompidos neste governo, como tantos outros, pela lei do Teto de Gastos, também aprovada após o golpe de 2016. São muitas “ferramentas” que esse governo não utiliza para o combate à inflação, restringindo-se à elevação de juros.

O valor está acima do teto da meta de inflação. Para 2021, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tinha fixado meta de inflação de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 5,25% neste ano nem ficar abaixo de 2,25%.

No Relatório de Inflação divulgado no fim de setembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o IPCA fecharia o ano em 8,5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode estar desatualizada com a possibilidade de que o teto de gastos seja alterado.

A projeção está abaixo das previsões do mercado. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 8,96%. A projeção oficial só será atualizada no próximo Relatório de Inflação, que será divulgado em dezembro.

Com informações da Agência Brasil