CPI da Covid já virou arma contra Bolsonaro na eleição 2022

Maioria da comissão quer protocolar na Justiça um pedido para banir o presidente das redes sociais

24J: Ato Fora Bolsonaro em Porto Alegre (Foto: Oliven Rai / Mídia Ninja)

O relatório da CPI da Covid, que será votado nesta terça-feira 26, traz mais de 200 áudios do presidente Jair Bolsonaro estimulando o uso de cloroquina e minimizando a pandemia. Além dos indiciamentos sugeridos, a maioria da comissão quer protocolar na Justiça um pedido para banir o presidente das redes sociais.

É que Bolsonaro renova a cada dia o arsenal contra si mesmo, como fez ao falar da mentirosa e absurda relação entre a vacina da Covid e o HIV, o que deixou boquiabertos inclusive bolsonaristas. O caso foi parar no STF e levou empresas como YouTube e Facebook a retirarem a transmissão do presidente do ar.

Para os senadores, são atitudes que colocam numa saia justa até o procurador-geral da República, Augusto Aras. Aliado do governo, ele se vê cada vez mais pressionado a agir. A tragédia da Covid no Brasil vai exigir uma resposta não só da CPI – mas também do conjunto do Judiciário.

“Há diversos, amplos e muitos elementos jurídicos que apontam para a responsabilização do presidente e de seus filhos, autoridades públicas especialmente as vinculadas ao Ministério da Saúde. É um quadro que vai exigir essa responsabilização sob diversos aspectos”, diz o advogado e analista Melillo Diniz, do Portal Inteligência Política. Segundo ele, “no campo do Direito”, será necessário “processar os principais atores desse quadro terrível, horroroso que nos levou a mais de 600 mil mortes – um número sob qualquer aspecto estupendo e tenebroso”.

Para o jurista Joaquim Falcão, da FGV, ainda que os processos na Justiça demorem, a pauta da CPI já está posta e vai esquentar ainda mais a eleição presidencial de 2022. “O ritmo da apuração política não é o mesmo da apuração jurídica, mas o importante da CPI é que ela criou uma pauta, temas, problemas, muitos com nítido conteúdo jurídico, para Bolsonaro enfrentar na campanha. É como se estivéssemos assistindo a um filme de Tarantino”, compara. “A campanha vai ser uma carnificina – espero que não seja uma carnificina da democracia.”

Além de Bolsonaro, o relatório final da CPI cita filhos do presidente, empresários, parlamentares, médico, servidores, militares, ministros e ex-ministro. Os procuradores vão avaliar caso a caso, o que pode potencializar os efeitos da investigação. “O que o Ministério Público fará quando receber o relatório da CPI é identificar quem são as pessoas que serão processadas criminalmente, quais pessoas serão mais investigadas, aprofundar essa investigação e quais as pessoas que foram eventualmente mencionadas ali, mas contra as quais não há um indício mínimo”, esclarece o jurista Thiago Bottino.

Com informações da RFI