Logística de transporte no Brasil deve se preparar para pós-pandemia

Para o engenheiro Claudio Barbieri, é importante tomar medidas para estimular alternativas mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental, como são o transporte ferroviário, hidroviário e marítimo

(Fotos públicas)

Os investimentos em transportes podem chegar a R$ 238 bilhões, de acordo com cálculos, com recursos privados até 2022. Claudio Barbieri, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo, comenta sobre investimentos e infraestrutura de transportes no Brasil, em entrevista à Rádio USP.

De acordo com Barbieri, a participação da iniciativa privada é estratégica ao investir em projetos de transportes e logística para favorecimento próprio, já que o governo investe cada vez menos.

A dependência do modal rodoviário é de 60% do total do transporte de cargas. Isso tem como consequência uma vulnerabilidade em relação à inflação do preço dos combustíveis. A pressão dos caminhoneiros para aumentar o custo do frete fica mais aguda com essa dependência.

“É importante tomar medidas para estimular alternativas mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental, como são o transporte ferroviário, hidroviário e marítimo”, comenta Barbieri.

Ele ainda complementa que já existem projetos de ampliação de modais alternativos ao rodoviário, como o ferroviário, mas “não saem do papel e faltam investimentos e recursos”, destaca. O engenheiro explica que, por serem obras de longa maturaç˜ão, desinteressam aos governos, por envolverem recursos vultosos para ferrovias que só serão inauguradas em outra gestão.

A dependência do modal rodoviário não apenas afeta o custo do transporte, como também pode deixar de ser uma alternativa. Ele exemplifico com os congestionamentos e dificuldades dos caminhoneiros na região metropolitana. Segundo ele, não basta apenas aumentar a malha, pois as dificuldades continuarão na circulaç˜ão. “Nem tem mais como ampliar a malha, é preciso mudar a matriz”.

Preço atrativo vem do transporte

“Para a Vale, por exemplo, ser competitiva no mercado internacional de minério de ferro, ela precisa ter uma logística muito eficiente, visto que a posição do Brasil em relação à Ásia é muito desfavorável. Isso faz com que a empresa faça investimento não porque vai ganhar dinheiro no transporte do minério, mas sim porque ela vai conseguir ser lucrativa e ter benefícios na comercialização”, exemplifica Barbieri, ao destacar os interesses da iniciativa privada no setor de transporte.

Ele ainda lembra do custo e tempo do transporte de produtos agrícolas, por exemplo. “Se o custo for muito alto, diminui a atratividade do produto brasileiro”, destaca. É preciso ter um preço final competitivo dos produtos, mas para isso leva-se em conta os custos e o tempo gasto durante o transporte.

Ele cita os investimentos da Vale do Rio Doce em ferrovias eficientes e os maiores navios de carga do mundo para reduzir custos de transporte de seus minérios.

Trem com carga – Foto: Luiz H. Bassetti -Flickr

Segundo Barbieri, a infraestrutura de transporte do Brasil, mas não somente, deve estar preparada com a crescente demanda do setor nesse período pós-pandemia para evitar problemas logísticos. Ele mencionou o investimento que o governo de Joe Biden, nos EUA, pretende investir em infraestrutura. O volume é de 2 trilhões de dólares, com metade disso investido em logística de transporte.

“Não adianta só fazer obras novas, mas sim conservar a estrutura existente e manter a manutenção constante para que não termine sua vida útil, por exemplo, de asfaltos de rodovias que podem prejudicar o tráfego e causar acidentes”, finaliza.

Edição de entrevista `à Rádio USP

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