Presidente da UNE defende mobilização na periferia pelo “Fora Bolsonaro”

“Além de fazer com que as ruas se encham mais, a discussão do impeachment passa pelo diálogo com o Brasil real, que está desempregado, passando fome. Somente chamar a mobilização de rede não funciona”, disse Bruna Brelaz à Folha de S.Paulo

A presidente da UNE, Bruna Brelaz (Foto: Divulgação)

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, disse que tem muita gente na periferia das cidades brasileiras a favor do “Fora Bolsonaro”. Um contingente com grande potencial para engrossar as mobilizações pelo impeachment do presidente, mas que “às vezes querem se organizar de outra forma ou não têm a prática militante.”

“Além de fazer com que as ruas se encham mais, a discussão do impeachment passa pelo diálogo com o Brasil real, que está desempregado, passando fome. Somente chamar a mobilização de rede não funciona”, respondeu ao questionamento se a mobilização havia chegado ao limite.

O jornal destaca que a dirigente da maior entidade estudantil do país é uma árdua defensora da frente ampla, inclusive com a direita e antigos inimigos, pelo “Fora Bolsonaro”. “Desde julho, além de quatro encontros com Lula, decidiu se reunir com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e subiu no palácio do MBL no ato de 12 de setembro pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro”, diz a publicação. Ela também se reuniu com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

Bruna falou do ataque que sofreu no próprio campo da esquerda. “Fiquei com medo de sair na rua. E não fiquei preocupada por conta do bolsonarismo. Essa rede de ódio precisa ser refletida pela esquerda. As pessoas que são lideranças esses campos precisam falar sobre isso. Não podemos nos comportar como bolsonaristas”, disse.

“Por conta dessas situações, eu passei a dialogar de forma mais profunda com a deputada estadual do PSOL Isa Penna, de São Paulo, passei a falar sobre isso com a deputada federal Tabata Amaral [PSB-SP], conversei um pouco com a senadora Simone Tebet [MDB-MS], que passou por uma situação de violência no parlamento. A Isa Penna me mostrou o que mandaram para ela, é assustador”, revelou.

Apesar de admitir “um balde de água fria” depois da timidez do último protesto contra Bolsonaro, a líder estudantil diz não ter perdido a esperança. Cobra menos debate eleitoral e mais debates sobre o impeachment.

Democracia

“A defesa da democracia é primordial para que a gente consiga fazer o embate das nossas diferenças. Para que limpe de campo esse obscurantismo e projeto antidemocrático. Reconhecendo que temos diferenças. Não deixamos de discordar do MBL, não deixamos de discordar de Fernando Henrique Cardoso e nem da política neoliberal que ele implementou”, argumentou.

Para ela, o MBL fez um gesto de tentar construir um dia 12 mais amplo. “Vi uma oportunidade de dialogar com essas figuras que não estavam nas outras manifestações. Sem elas, não conseguimos articular de fato o impeachment.”

“Ali dialogamos com figuras que votaram no Bolsonaro e que estão arrependidas. Nós, de todos os campos, precisamos estar preparados para dialogar com o Brasil real. O Brasil que elegeu Bolsonaro. Nem todas as pessoas que votaram no Bolsonaro são fascistas”, afirmou.

Ela diz que o debate “Fora Bolsonaro” não pode ser bravata. “Se nós queremos o Fora, Bolsonaro de verdade, a gente precisa abrir o coração e se colocar à disposição para sentar com essas figuras antagônicas. Isso vale para todos os lados, para o MBL, para alguns setores da esquerda”, disse.

Retorno às aulas

Bruna defendeu o retorno às aulas, pois está percebendo o agravamento das desigualdades. “O estudante que não tem um computador para ter acesso às aulas é o maior prejudicado. É o estudante mais pobre, negro e indígena do país”, criticou.

No entanto, ela diz que o Estado brasileiro precisa planejar um retorno seguro. “E isso não significa só álcool em gel e máscaras. As universidades passam por uma retenção de recursos gravíssimas. A gente acha que é preciso ter a recomposição do Orçamento das universidades. E precisa ter planejamento sobre as doses de reforço da vacinação”, cobrou.

“A gente não tem dúvida de que as aulas vão voltar. Não vamos ser contra as aulas presenciais. Vamos fortalecer a fiscalização e cobrar do governo federal”, disse.

Com informações da Folha de S.Paulo

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