Pandora Papers: como investigar Paulo Guedes e Campos Neto, por Luis Nassif

O ponto central das investigações sobre Campos Neto e Guedes não deve ser a origem dos recursos depositados.

Fotomontagem: BR247

O que uma autoridade econômica de uma grande economia pode fazer com seus fundos offshore, tendo acesso a informações antecipadas sobre os rumos da economia e as medidas econômicas?

O caso Roberto Campos Neto e Paulo Guedes chamam a atenção. Uma primeira análise é sobre os rumos da política monetária. Ao permitir a notável depreciação do dólar, ambos foram diretamente beneficiados.

Vamos a outras possibilidades, a partir do que foi descoberto sobre Richard Clarida, vice-presidente do Federal Reserve (o Banco Central norte-americano)., em reportagem da Zero Hedge.

As manobras levaram a escândalos que provocaram a renúncia dos presidentes do FED de Boston e Dallas. O escândalo Clarida veio em seguida.

Em 27 de fevereiro de 2020 ele negociou milhões em títulos, um dia antes do presidente do FED dar uma declaração de emergência, bastante otimista, sugerindo uma possível ação monetária conforme a pandemia piorava.

As declarações de Jerome H. Powell, presidente do FED, eram otimistas: “Os fundamentos da economia dos EUA permanecem fortes. No entanto, o coronavírus apresenta riscos crescentes para a atividade econômica. O Federal Reserve está monitorando de perto os desenvolvimentos e suas implicações para as perspectivas econômicas. Usaremos nossas ferramentas e agiremos conforme apropriado para apoiar a economia“.

Clarida transferiu US$ 5 milhões de um fundo de título da Pimco e de um fundo negociado em bolsa, pouco antes do FED nacionalizar o mercado de títulos corporativos, tirando o mico da banca privada.

Poucos dias depois, com as ações despencando, o FED avançou na primeira de muitas operações de resgate emergencial do mercado, incluindo trilhões em operações compromissadas e reversas. Depois disso, a S&P500 (que mede comportamento das ações) explodiu.

Flagrado com o porco nas costas, Clarida explicou que as operações já estavam planejadas há tempos e seriam apenas um rebalanceamento de suas aplicações. Assim como Guedes e Campos, Clarida veio do mercado, era executiva da Pimco.

No dia da negociação, segundo levantou a Bloomberg, ele estava visitando professores e alunos da Universidade de Yale, e não em seu escritório em Washington. Não se identificou nenhum telefonema para a Pimco, que comprovasse uma negociação aberta. O que sugere que a ordem de compra foi particular.

O Guia Voluntário de Conduta do FED define que ” eles devem evitar cuidadosamente o envolvimento em qualquer transação financeira cujo momento possa criar a aparência de ação com base em informações privilegiadas sobre as deliberações e ações do Federal Reserve”. Também diz que eles devem evitar negociações que possam “transmitir até mesmo uma aparência de conflito entre seus interesses pessoais, os interesses do sistema e o interesse público”.

Fevereiro de 2020 foi um mês particularmente nervoso nos mercados internacionais – e no Brasil. Muitos fundos carregavam títulos de dívida de grupos privadas, e não se sabia quem sairia vivo ou morto da parada súbita da economia. Em ambos os mercados, houve movimentações violentas no mercado de títulos privados, conforme relatamos no GGN.

As medidas do Banco Central permitiram a recuperação do mercado, injetando bilhões para assumir os títulos duvidosos dos fundos privados. Quem teve conhecimento prévio dos movimentos do BC, ganhou muito dinheiro. 

O ponto central das investigações sobre Campos Neto e Guedes não deve ser a origem dos recursos depositados. As notas oficiais de ambos não explicam nada. Dizem que declararam os recursos antes de assumir. Dizem que os recursos foram depositados no exterior antes de sua posse como Ministro e presidente do BC.

A investigação deve se concentrar na movimentação desses fundos, onde estavam aplicados durante a montanha russa do mercado de ações e de títulos.

Fonte: GGN

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