Todos se sentiram reféns das redes sociais, como num apagão elétrico

A pane das principais plataformas digitais de comunicação mostrou que as pessoas automatizaram seu uso e nem percebem o quanto são dependentes, podendo sofrer enormes prejuízos. Por outro lado, a crise no WhatsApp favoreceu a migração para outros aplicativos.

O fotógrafo Antoine Geiger montou uma série de fotos intitulada SUR-FAKE. Cada imagem mostra pessoas em público com seus rostos sugados pelas telas que estão olhando

Com a queda do WhatsApp, Facebook e Instagram nesta segunda-feira (4), trabalhadores de diversos setores se viram atingidos por prejuízos ao perceber que estão totalmente dependentes e refém dessas plataformas digitais para garantir seu sustento. Serve também como um alerta para problemas eventuais em outras plataformas, às quais o mundo do trabalho depende totalmente.

O apagão em plena segunda-feira atrasou o planejamento da semana para muitos profissionais de home office que usam os grupos de WhatsApp para reuniões. Teve comerciante que percebeu que organiza todos seus pedidos de produtos na segunda-feira, para atender os clientes durante a semana, e vai ter que melhorar seu planejamento.

Os pequenos varejistas que sequer têm um site qualificado para vendas, usando o Instagram para divulgar produtos e cardápios e o WhatsApp para realizar os pedidos e tirar dúvidas, ficaram simplesmente sem faturamento. A pandemia acelerou um processo que já se previa: o fechamento da cara loja física, a demissão de funcionários, para focar em venda online, delivery e comunicação com o cliente via redes sociais.

Se o cliente é fiel, basta fazer uma ligação. Hoje, em dia, com o excesso de telemarketing e golpes, as pessoas sequer atendem o telefone se não conhecerem o número. Com isso, houve quem não conseguisse se comunicar adequadamente com fornecedores, nem fazer ou receber pagamentos, pois usam a rede para enviar boletos ou links de pagamentos.

Outra situação desagradável é enviar mensagens para centenas de pessoas e não saber quem recebeu. Grandes varejistas também andaram atrelando suas vendas em sites e aplicativos ao Instagram, Facebook e Whatsapp. Estes também tiveram um dia tumultuado, embora com menos prejuízo que as pequenas lojas.

A vendedora de salgadinhos teve que ligar para clientes mais conhecidos e ler um por um dos inúmeros itens do cardápio para conseguir fechar um pedido. É muito mais fácil o cliente quebrar o galho com um sanduíche do que tentar resolver o problema do restaurante que não conseguiu enviar o cardápio, nem responder a pedidos pelo Whatsapp. Tem restaurante de marmitas que envia cardápio para centenas de clientes todos os dias.

Lojas de presentes encomendados, como floriculturas, precisam tirar dúvidas sobre os pedidos pela plataforma. Foi um dia de silêncio e flores murchando.

O Whatsapp ainda é usado corriqueiramente por professores como uma ferramenta pedagógica, principalmente aqueles que dão aulas particulares. Junto com eles estão alguns terapeutas, que conversam com pacientes ou analisandos, até de outros países, que ficaram numa situação difícil, assim como deixaram os pacientes numa situação complicada. Na área médica, muitos usam o aplicativo para confirmar consultas, por exemplo.

Muitos profissionais trabalham justamente com planejamento de marketing em redes sociais como Instagram, e não puderam falar com os clientes e mostrar como explorar o potencial da plataforma, pois, justamente esta plataforma estava inacessível. Ficaram paralisados e tiveram que adiar reuniões.

Outros trabalham para aumentar número de seguidores e engajamento diário de seus perfis, para conseguir monetizar conteúdos. Para esses, foi um dia perdido, com conteúdo esperando no forno para postagem.

Essa crise mostrou que todos precisam ter estratégia envolvendo um aplicativo, que não seja propriedade de Mark Zuckerberg, como plano B para comunicação. Foi assim que as lojas de aplicativos explodiram com downloads de Telegram e Signal. Grupos de WhatsApp também migraram para essas alternativas.

Há ainda uma “parcela secreta” de trabalhadores que comemoraram a queda dos aplicativos, podendo adiar reuniões ou tarefas. Houve ainda aqueles que descobriram que têm um dia bastante agradável com a saúde mental preservada sem ficar viciado nas telinhas e feeds intermináveis de dancinhas, opiniões políticas e memes.

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