Bolsonarista alega na CPI liberdade de opinião para crimes cometidos

O vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), advertiu o empresário Otávio Fakhoury que é crime quando a opinião dele compromete a saúde de todos

Otávio Fakhoury durante depoimento na CPI (Foto: Leopoldo Silva / Agência Senado)

Ao contrário da maioria dos bolsonaristas que depôs na CPI da Covid, o empresário Otávio Fakhoury não negou nesta quinta-feira (30) aos senadores ter atuado contra a vacina, uso de máscara e a favor do tratamento precoce (uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19), mas não reconheceu crimes nessas práticas. Para ele, trata-se de “uma conclusão pessoal baseada na liberdade de opinião.”

Por conta dessa conduta, o depoente foi logo advertido. “Isso não é liberdade de opinião. Quando a sua decisão, a sua opinião compromete a saúde de todos, isso não é liberdade de opinião. Isso é crime”, afirmou o vice-presidente do colegiado Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

“E olha o resultado dessa campanha, desse estímulo: quase 600 mil mortes”, emendou o relator Renan Calheiros (MDB-AL), que apresentou vídeos do depoente estimulando as práticas negacionistas. O relator concluiu que o indiciamento dele será inevitável.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) apontou que as falas de Jair Bolsonaro e de Otávio Fakhoury contra isolamento, máscaras e vacinas colocaram a população em risco. Rogério, que também é médico, reforçou que, em saúde pública, a informação veiculada se transforma em comportamento. Segundo o senador, a CPI tem compromisso com a verdade, com a ciência e com a produção acadêmica.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) chegou a pedir à presidência da CPI que, a cada fala negacionista do depoente, houvesse a intervenção de algum parlamentar do comando da comissão parlamentar de inquérito para esclarecimento do público. “Esta CPI tem um nível de audiência muito grande no Brasil inteiro, as TVs estão transmitindo, e a população não pode receber uma informação dele como se fosse verdade, porque não é”, declarou.

Fakhoury disse ser vítima de “calúnias, ataques e campanhas difamatórias”. Investigado no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a propagação de fake news e a promoção de atos antidemocráticos, o empresário diz que é apenas “um cidadão com opinião”.

Vacinas

Indagado sobre as vacinas, Fakhoury disse que até hoje elas estão em “caráter experimental” e, por isso, não podem ser obrigatórias, e por isso disse não ter a pretensão de se vacinar “por enquanto”. Randolfe Rodrigues, mais tarde, observou que as vacinas aplicadas na população brasileira passaram pela fase 3, ao contrário do que disse o depoente, não tendo, portanto, caráter experimental.

O relator Renan Calheiros (MDB-AL) quis saber ainda com base em quê ele classificou a Coronavac como “lixo de vacina”. “Critiquei com base em informações à imprensa naquele momento. É uma conclusão pessoal baseada na minha liberdade de opinião”, afirmou. 

Em relação ao distanciamento social, o empresário se disse favorável ao “lockdown vertical”, isolando-se pessoas do grupo de risco, como idosos e portadores de comorbidades, de forma que a economia não pare e que os empregos sejam preservados. Os senadores também pontuaram que a tese defendida pelo depoente não tem base científica.

Mais adiante, Fakhouri foi indagado sobre suas relações com o coronel Hélcio Bruno, presidente da Ong Instituto Força Brasil, na qual atua como vice-presidente. O coronel, que também depôs à CPI, chegou a admitir ter atuado a aproximar a empresa Davati de funcionários do Ministério da Saúde. Essas negociações foram alvo de investigações da comissão parlamentar de inquérito. O empresário disse ser amigo do coronel e declarou não participar das deliberações do Instituto Força Brasil.  Randolfe apontou contradição, já que Fakhouri, que se diz contra as vacinas anticovid, participa de uma Ong que intermediou uma oferta de vacinas à pasta da Saúde.

Homofobia

Antes de o relator apresentar suas perguntas, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) acusou Fakhoury de fazer um ataque homofóbico contra ele por meio de redes sociais. Contarato mostrou a postagem do empresário, destacando que não foi apenas contra ele, mas contra toda a população LGBTQIA+. A CPI da Pandemia também encaminhou a denúncia ao Ministério Público Federal.

Com informações da Agência Senado

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