Alemanha julga empresa envolvida no crime da Vale em Brumadinho

Corte alemã pede prazo para analisar documentos no caso da Tüv Süd

Rompimento de barragem na mina de Córrego do Feijão levou a vida de 272 pessoas -Foto Corpo de Bombeiros de MG

A empresa de consultoria alemã TÜV SÜD, acusada de ter falsificado o certificado da barragem de mineração de Brumadinho (MG), que rompeu 25 de janeiro de 2019, causando 272 mortos, começou hoje a ser julgada em Munique, no sul da Alemanha. Na ação, de natureza administrativa, os advogados do município mineiro e de 1.200 vítimas reivindicam indenização por danos e prejuízos da empresa alemã.

A audiência começou às 9h30 no horário local (4h30 no horário de Brasília). O prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo Barcelos, o Nenen da Asa (PV), participa do julgamento. A expectativa é de que mais de mil pessoas possam reivindicar danos à empresa. A ação afirma ainda que as vítimas não tiveram acesso à Justiça adequada no Brasil.

Três juízas da corte de Munique, no entanto, pediram o prazo de 5 meses para analisar outros documentos da ação indenizatória do município de Brumadinho e de familiares, contra a Tüv Süd. A próxima audiência vai acontecer no dia 1° de fevereiro de 2022.

De acordo do Pedro Martins, advogado da PGMBM, escritória que representa o município de Brumadinho e os familiares das vítimas, o pedido da corte é legítimo e pode sinalizar um ponto positivo para os autores da ação. “As três juízas se mostraram bem preparadas, conhecedoras dos fatos e fizeram perguntas consistentes sobre o caso. Agora elas vão se debruçar sobre outros documentos e sobre o que foi dito na audiência de hoje pelas partes. Estou confiante que no início do ano elas tomarão uma decisão, parcial ou definitiva”, disse. 

O prefeito de Brumadinho, Nenen da Asa também se mostrou confiante: “Pelo que vimos aqui no tribunal não há como não reconhecer uma culpa que é pública e notória”, afirmou.

Ambientalistas protestaram contra a empresa alemâ em Munique – Foto divulgação prefeitura de Brumadinho

Acusação

A consultoria é acusada de ter falsificado documentos para certificar a segurança da barragem da mina de minério de ferro, localizada no distrito de Córrego do Feijão. O rompimento da barragem liberou uma enxurrada de lama no município e no Vale do Rio Paraopeba, causando um grande desastre ambiental. Cerca de 13 milhões de m³ de rejeitos inundaram a região, contaminando o Rio Paraopeba, interrompendo a captação de água e destruindo parte da economia.

A investigação realizada no Brasil revelou que o certificado de segurança, emitido pela empresa TÜV SÜD, continha informações falsas. Segundo as autoridades, a barragem não atendia as normas internacionais de segurança. O grupo alemão rejeita essas acusações.

A TÜV SÜD “deve assumir na Alemanha o que fez a milhares de quilômetros de distância”, disse em nota Pedro Martins, advogado da PGMBM, que representa o município de Brumadinho. Seu escritório afirma que tem “provas que demonstram que a TÜV SÜD certificou que essa barragem era segura, embora não fosse. É um fato que eles sabiam, mas ignoraram”, acrescentou. 

Mar de lama atingiu a bacia do Rio Paraopeba – Corpo de Bombeiros de MG

No início de 2021, a mineradora Vale, responsável pela barragem, concordou em pagar 7 bilhões de dólares (6 bilhões de euros) para remediar as consequências sociais e ambientais do rompimento da barragem. Desse total, 1,7 bilhão de dólares foi diretamente para as pessoas afetadas. A Justiça brasileira também abriu um processo criminal contra vários funcionários e administradores da TÜV SÜD e da Vale.

Em mais de dois anos e meio após o crime, ninguém foi preso ou julgado no Brasil. Dezesseis pessoas, entre engenheiros e dirigentes da Vale e da consultoria Tüv Süd, respondem por homicídio doloso duplamente qualificado. Todos e as duas empresas respondem ainda por crimes ambientais.

Bandeiras do Brasil e de Brumadinho marcaram presença diante do Fórum em Munique – Foto divulgação Prefeitura de Brumadinho

 

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