Além de Bolsonaro, médicos negacionistas também orientavam Paulo Guedes

“A economia não podia parar e eles tinham que conceder esperança para as pessoas saíssem para as ruas. E a esperança tinha um nome: era hidroxicloroquina”, disse a advogada Bruna Morato na CPI da Covid

Bruna Morato depões na CPI (Foto: Roque de Sá / Agência Senado)

O depoimento nesta terça-feira (28) da advogada Bruna Morato, que representa os médicos que denunciaram a Prevent Senior por uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia contra Covid-19, trouxe novas revelações à CPI da Covid. De acordo com ela, os médicos Anthony Wong (toxicologista), Nise Yamaguchi (imunologista) e Paolo Zanotto (virologista) não só assessoravam o presidente Bolsonaro, mas também o ministro da Economia, Paulo Paulo Guedes.

“A economia não podia parar e eles tinham que conceder esperança para que as pessoas saíssem para as ruas. E a esperança tinha um nome: era hidroxicloroquina”, afirmou. A advogada revelou ainda que cada um dos médicos que vinham assessorando o governo federal tinham um papel.

Wong era responsável por desenvolver um “conjunto medicamentoso atóxico”; Yamaguchi disseminaria informações sobre resposta imunológica; e Zanotto falaria sobre o vírus de forma mais abrangente.

Depois das críticas feitas contra a empresa pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a seguradora procurou os médicos que assessoravam o governo. Então, segundo ela, a Prevent Senior fez um “pacto” para colaborar com essas pessoas.

A Prevent iniciou, por exemplo, um estudo com hidroxicloroquina sem autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Bruna Morato disse que a pesquisa teve início em 26 de março, mas o pedido de autorização só foi feito em 4 de abril. Ela revelou que os estudos foram suspensos por que a empresa já tinha estudo prévio.

Gabinete paralelo

O grupo de médicos, que é chamado pela CPI de gabinete paralelo, seguia um plano do Ministério da Economia. A advogada disse que eles estavam extremamente preocupados com a possibilidade de lockdown.

“Por conta disso, as informações que foram levadas aos médicos, em uma reunião promovida pela instituição, foi a seguinte: que existiria uma colaboração, com relação à instituição Prevent Senior, na produção de informações que convergissem com essa teoria, ou seja, de que é possível você ter ou você utilizar um determinado tratamento como proteção”, revelou a advogada aos senadores.

A partir daí surgia o chamado tratamento precoce, isto é, uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da doença. “No começo se chamava tratamento preventivo, e, depois, com o desenvolver dos estudos, entendeu-se que não era preventivo. Na verdade, é um tratamento precoce, porque não existe prevenção”, disse Bruna Morato.  

“Mas a população, no geral, quando ela escuta a palavra ‘prevenção’, se encoraja a sair na rua, porque ela acha que, se ela tomar esse conjunto de medicamentos, conforme o vídeo que nos foi mostrado, ela ficará imune de algum modo. E ela tem coragem de sair. E, ao sair, ela se expõe ao vírus. Ainda que doentes, segundo informações que me foram passadas, as pessoas teriam a esperança de que não iriam falecer daquilo, e a esperança se chamava, naquele momento, hidroxicloroquina”, completou.

“Ludibriados”

Bruna Morato explicou que o “kit covid” inicialmente era composto por dois medicamentos (hidroxicloroquina e azitromicina) e chegou depois a um conjunto de oito medicamentos, incluindo vitaminas e suplementos proteicos.

Um dos diretores da Prevent Senior, identificado por ela como Felipe Cavalca, orientava seus clientes a não informar a pacientes e familiares sobre os riscos do tratamento com o “kit covid”. No seu entendimento, os usuários “foram ludibriados” para assinar termos de consentimento para a realização de estudos sobre os medicamentos ineficazes.

“O paciente idoso é extremamente vulnerável. Eles não sabiam que seriam feitos de cobaia. Eles sabiam que iriam receber medicamentos. Isso são coisas diferentes. Quando chegava para retirar o medicamento, era passada a seguinte informação: ‘para retirar essa medicação, o senhor precisa assinar aqui’. Eles não tinham ciência de que esse ‘assina aqui’ era o termo de consentimento”, lembrou a advogada.

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