Lobista da Precisa passa vexame na CPI ao explicitar tráfico de influência

A comissão tem provas de que Marconny Faria atuou como intermediário no contrato fraudulento de R$ 1,6 bilhão da empresa com o Ministério da Saúde para a venda de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech

O lobista Marconny Faria depõe na CPI (Foto: Roque de Sá / Agência Senado)

O advogado Marconny Albernaz Faria afirmou para os senadores da CPI da Covid que prestou serviço de análise técnica e política à Precisa Medicamentos no processo de licitação para a venda de testes rápidos contra a Covid-19 ao Ministério da Saúde. Instado a detalhar o que seria esse tipo de trabalho, ele se enrolou e não soube responder. “Tráfico de influência legalizado”, ironizou a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS).

A comissão tem provas de que ele atuou como intermediário no contrato fraudulento de R$ 1,6 bilhão da empresa com o Ministério da Saúde para a venda de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech.

Em conluio com o ex-secretário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) José Ricardo Santana, apresentado a ele num churrasco por Karina Kufa, advogada de Bolsonaro, Marconny teria atuado para conseguir a dispensa de licitação na compra de testes rápidos para detecção de covid.

Apesar da comissão ter a informação de que Jair Renan Bolsonaro estava no churrasco de Karina Kufa, no dia 23 de maio, ele disse não lembrar da presença do filho mais novo do presidente.

Marconny também passou vexame quando foi cobrado a revelar o nome do senador que “desataria os nós” no Ministério da Saúde. Na quebra de sigilo, o lobista diz em mensagem a Ricardo Santana que um parlamentar resolveria o problema, mas aos senadores disse não saber o nome.

“Mas essa mensagem foi trocada. O senhor falou: ‘Eu conheço um senador que vai desatar o nó’. O senhor deve isso para mim também, porque eu sou senador, e eu não quero que paire a dúvida para a população brasileira de que poderia ser o meu nome”, desafiou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES).

Além de Contarato, ele foi cobrado a apresentar o nome por Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Omar Aziz (PSD-AM).

“O senhor é mais um oportunista nessa zona cinzenta que temos em Brasília. Uma zona cinzenta de interação entre lobistas, que essa é a sua profissão, autoridades que se deixam corromper e maus políticos”, disse Alessandro Vieira. O senador lembrou que o aniversário de Marconny, em dezembro do ano passado, ocorreu no Estádio Nacional de Brasília num camarote exclusivo de Jair Renan, filho 04, quem o lobista ajudou a abrir uma empresa de eventos.

Quem é o senador

Apoiada pelo presidente da CPI, Aziz, e pelo vice Randolfe, a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) pediu que a Polícia Legislativa apresente o registro de todas as entradas de Marconny nas dependências do Senado. Ela quer esclarecer se o depoente esteve no gabinete de algum parlamentar, fato que ele negou.

Randolfe ainda apresentou uma conversa, obtida pela quebra do sigilo, em que apresentava o passo a passo do esquema. A troca de mensagens, ocorrida em 4 de junho de 202, foi encaminhada por Francisco Maximiano, dono da Precisa, para ele com ordens direcionadas a Santana e Bob, este último Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde (Delog).

Autor