Ligado ao líder de Bolsonaro, Tolentino avaliza venda fraudulenta de vacina

Mesmo sem capacidade financeira, a empresa FIB Bank ofereceu garantia financeira de R$ 80,7 milhões para o contrato irregular da Precisa Medicamentos com o Ministério da Saúde

O empresário Marcos Tolentino durante depoimento à CPI (Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado)

Apesar do silêncio e negar que seja dono da FIB Bank, que não é um banco, mas deu aval para as negociações fraudulentas da venda da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde num contrato de R$ 1,6 bilhão, o advogado e empresário Marcos Tolentino da Silva é o verdadeiro dono da empresa e agiu para viabilizar a negociação sob a influência do amigo e líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PL-PR).

Mesmo sem capacidade financeira, a empresa FIB Bank ofereceu garantia financeira de R$ 80,7 milhões para o contrato da Precisa com a pasta da Saúde. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que foram quase 40 cartas de fiança fornecidas pela FIB Bank para contratos com o governo federal, o que dá em torno de R$ 600 milhões.

O diretor da empresa Roberto Ramos Júnior disse à CPI que a instituição financeira foi fundada em 2016 por duas empresas: a MB Guassu e a Pico do Juazeiro. “O senhor Marcos Tolentino é o verdadeiro dono oculto do FIB Bank”, afirmou Renan Calheiros, que revelou uma procuração dada a ele pela Benetti Prestação de Serviços, dona da Pico do Juazeiro e sócia da FIB Bank.

Os documentos e fatos apresentados pelo relator e senadores, durante o depoimento do empresário nesta terça-feira (14), não deixam dúvidas sobre o papel do empresário na negociação e explica por que Tolentino resistiu comparecer à CPI. “O silêncio do depoente não altera em nada do que se levantou”, disse o relator.

Sobre a procuração, Simone Tebet afirmou que não existe no direito brasileiro uma procuração com poderes irreversíveis e absolutos, o que “caracteriza que a pessoa passa a ser proprietária.”

“Várias matérias apontam que Tolentino é o verdadeiro dono da FIB Bank, sendo o sócio oculto da empresa e, por ser amigo direto do deputado Ricardo Barros, teria facilitado a emissão da carta fiança a favor do contrato da Precisa Medicamentos (Covaxin) e de outros contratos no Ministério da Saúde”, disse o relator.

Para ele, Tolentino é representante, procurador ou administrador das empresas FIB Bank, Pico do Juazeiro e MB Guassu, “em caráter irretratável, sem a obrigatoriedade de prestação de contas. O que caracterizaria a propriedade de Tolentino sobre as empresas.”

Ricardo Barros

De acordo com os depoimentos à CPI do deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), e seu irmão, Luís Fernando Miranda, servidor do Ministério da Saúde, Bolsonaro teria dito a eles que Barros era o responsável pelo “rolo” no esquema da venda da vacina Covaxin.

O relator afirmou que o empresário agiu para satisfazer os interesses de Ricardo Barros na execução do contrato da Covaxin com a Precisa. “Ele foi acusado pelo próprio presidente de ser coisa dele, que mobilizou o governo, fez o presidente mandar uma mensagem ao primeiro-ministro da Índia, que superfaturou o preço da Covaxin”, explicou Calheiros.

Diante do que ele classificou como bandalheira, o governo Bolsonaro ainda pediu aditivo, no dia 6 de março, de mais 50 milhões de doses de vacina da Covaxin. “Ora, essa confusão toda foi por causa de 20 milhões de doses, exatamente R$ 1,6 bilhão, e, no dia 6 de março, desconhecendo tudo o que tinha havido, o governo Federal, através do coordenador da aquisição de vacinas, Coronel Elcio (Franco), pediu adicionalmente mais 50 milhões de doses!”, criticou.

“As movimentações financeiras entre o FIB Bank e empresas ligadas a Marcos Tolentino, notadamente a Brasil Space Air Log, mostram que há fortes indícios, senão comprovações, de que o FIB Bank, Pico do Juazeiro e MB Guassu, essas duas últimas empresas constituídas em nome de laranjas, pertencem exatamente a Marcos Tolentino”, concluiu.

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