Tratado como traidor, Bolsonaro sinaliza que pode voltar a atacar o STF

Em grupos de WhatsApp, caminhoneiros demonstram arrependimento e dizem que foram enganados pelo presidente “canalha, covarde e traidor”

Fotomontagem feita com as fotos de: Anni Roenkae/Pexels; Adriano Machado/Reuters; Sérgio Lima/Poder 360; Mathilde Missioneiro/Folhapress; Marcos Corrêa/PR

Em sua live nesta quinta-feira à noite (9), Bolsonaro tentou amenizar o efeito da nota escrita por Michel Temer na qual pede desculpas pelos seus arroubos golpistas contra as instituições do país. Aos seus seguidores solicitou “calma” sinalizando que pode voltar a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), contudo, ele continua sendo tratado pelos seus apoiadores como traidor e muitos anunciam “o fim do jogo”.

Em grupos de WhatsApp, caminhoneiros demonstram arrependimento e dizem que foram enganados pelo presidente “canalha, covarde e traidor”. O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, dono da empresa Terça-Livre, anunciou “game over” (fim do jogo) e diz que depois da manifestação ver uma nota de desculpa é de “chorar”.

O jornalista bolsonarista Rodrigo Constantino também anunciou o fim do jogo. “Dia 7: multidão nas ruas com pauta patriótica condenando o arbítrio. Dia 9: Bolsonaro elogia China como essencial e pede desculpas ao STF. Game over”, escreveu no Twitter.

Um dos mais ferrenhos defensores de Bolsonaro na Câmara, o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) usou a tribuna para se dizer indignado com a carta de Bolsonaro. “Leão que não ruge vira gatinho (…) O senhor ficou pequeno”, disse o governista.

Na avaliação da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) a situação política de Bolsonaro é insustentável. “Depois das ameaças golpistas ao STF, Bolsonaro divulga nota afirmando que nunca teve intenção de agredir quaisquer dos Poderes e que suas palavras decorreram do ‘calor do momento’. Bolsonaro é traidor da sua própria base. O impeachment se torna cada vez mais urgente! #impeachmentjá”, cobrou a parlamentar.

“Bolsonaro recua. A força da democracia é maior que os arroubos golpistas de Bolsonaro. Mas fiquemos de olho, porque eles se nutrem do ódio e têm alergia a democracia”, postou no Twitter a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), vice-líder da minoria na Câmara.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) foi direto: “Acho que deu para perceber que precisa um pouco mais que um soldado e um cabo para fechar o Supremo. Mas não precisa mais do que 6 letras para fazer Bolsonaro tremer: C-A-D-E-I-A!”

Vice-líder da oposição na Câmara, Perpétua Almeida (PCdoB-AC), ironizou a situação: “A carta Declaração à Nação, assinada por Bolsonaro e, segundo a imprensa, escrita por Temer, já está postada nas redes do Bolsonaro? Aqui pensando alto sobre o que Bolsonaro dirá amanhã…”

O vice-líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), diz que Bolsonaro “é um homem sem palavra, um frouxo, um traidor”. “Mas essas são as suas melhores ‘qualidades’. Porque o problema maior é ser um presidente incompetente, insensível, corrupto e genocida!”, criticou.

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), é preciso ficar atento com a estratégia bate-assopra do presidente. “Até o golpista Temer aconselhou o Bolsonaro a recuar da brava autoritária. As instituições precisam permanecer vigilantes aos arroubos antidemocráticos de Bolsonaro que não irão parar. Os crimes de responsabilidade já cometidos não podem passar impunes”, diz.

O senador avaliou a situação como um possível recuo estratégico: “Covardia anunciada! A reação do Brasil contra Bolsonaro é a maior expressão de que a nossa democracia é forte e precisa ser respeitada. Restou a ele se apegar ao Temer, um passado ruim que deveria ter passado, e pelo visto, não passou.”

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