Motoboy confirma à CPI saques milionários e idas ao Ministério da Saúde

Embora com uma responsabilidade de mover quantias milionárias, Ivanildo recebe, por meio de transferência bancária, um salário de R$ 1,7 mil

O motoboy Ivanildo Gonçalves durante depoimento (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

O motoboy Ivanildo Gonçalves, da VTCLog, sacou na boca do caixa quantias milionárias para fazer depósitos e pagamento de boletos. Ele fazia os serviços a mando de Zenaide Sá Reis, responsável da empresa por entregar cheques e receber dinheiro sacado pelo trabalhador. Embora com a responsabilidade de mover quantias milionárias, Ivanildo recebe, por meio de transferência bancária, um salário de R$ 1,7 mil.

A CPI tem informações que o motoboy movimentou R$ 4,7 milhões nesse esquema de saque do dinheiro para fazer pagamento. Nesta terça-feira (31), os senadores apresentaram fotos nas quais ele aparece pagando boletos em benefício de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde. Dias foi demitido, em 29 de junho, após acusação de ter pedido propina pela aquisição de vacina.

Nesse mesmo período, a empresa foi beneficiada por aditivos de contrato autorizados por Dias. A empresa, que foi contratada quando o ministro da pasta era o deputado Ricardo Barros (PP-PR), atual líder de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, mantém contratos com o ministério superiores a R$ 500 milhões.

O motoboy disse que um dos saques na boca do caixa foi de mais de R$ 430 mil, na maioria das vezes na agência da Caixa Econômica no aeroporto de Brasília. Ele pagava boletos com esse dinheiro e devolvia o valor restante para a empresa. Disse que fazia o pagamento, mas não lembrava quais os beneficiários.

Ivanildo afirmou também que entregou diversas faturas no ministério e que, ainda este ano, levou um pen drive no 4º andar do prédio, onde funciona o Departamento de Logística da pasta.

Celular

No início da oitiva, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) pediu o celular de Ivanildo para que a CPI pudesse averiguar informações e teve a imediata autorização do depoente. Porém, o advogado de defesa interveio para dizer que ele tinha negado. Aliás, a conduta do advogado irritou o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM).

“Só quem pode tocar no microfone é o depoente, o senhor não vai tocar no microfone. O senhor está fazendo o seguinte: toda vez o senhor puxa o microfone; ele faz a pergunta; na hora de responder, aí ele se abaixa, fala no ouvido para responder. Eu estou dizendo que ninguém é tolo aqui”, afirmou Aziz.

O presidente da CPI explicou ao depoente que as transações em espécie ajudam a esconder a origem do dinheiro: “A gente aqui sabe. Até pela experiência que todo mundo tem aqui”. O depoente também revelou que a iniciativa de ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não comparecer na CPI não foi dele, mas da empresa que ainda lhe forneceu advogados.

Ele ainda revelou que a idas a bancos para fazer pagamentos de boletos e outros serviços diminuíram recentemente. Para o presidente da CPI, não há dúvida, de que isso é resultado de um trabalho da comissão.

“O senhor recebe os seus salários em espécie ou por transferência bancária para a sua conta?”, indagou o senador Otto Alencar (PSD-BA). “Transferência bancária”, respondeu o motoboy. “Então está explicado que certamente os recursos retirados em espécie seriam utilizados para fins que não são justos, corretos, republicanos. É a situação do pagamento de propina a agentes que facilitavam a VTCLog a ter os contratos generosos que tinham no Ministério da Saúde”, concluiu o senador Otto.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) pediu a convocação imediata de Zenaide Sá Reis, que era a responsável pelos pedidos de saques, depósitos e pagamentos de contas feita pelo motoboy.

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