Bolsonaro se isola com reações do setor produtivo, avaliam parlamentares

Numa atitude contra ações antidemocráticas, entidades do ramo empresarial, dos bancos e do agronegócio saem em defesa da democracia e da harmonia entre os poderes

Fotomontagem feita com as fotos de: Adriano Machado/Reuters; Sárgio Lima/AFP; Jorge William/O Globo; Pablo Jacob/O Globo

Empresários, banqueiros e grandes produtores rurais se posicionaram a favor do equilíbrio entre os poderes, democracia e defesa da Constituição. Um manifesto nesse sentido, articulado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), teve o apoio de diversas entidades e deve ser divulgado na próxima semana. Já os representantes do agronegócio publicaram nota em defesa da democracia nesta segunda-feira (31).

Nesse primeiro momento, fica claro que as atitudes golpistas e antidemocrática de Bolsonaro contra as instituições não vão encontrar eco nesses importantes setores da economia. O governo reagiu e articula para que empresários e bancos divulguem o documento após o ato antidemocrático do dia 7 de setembro, que entre outras hostilidades, pede o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

No claro uso político das instituições, o governo Bolsonaro fez o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica ameaçarem deixar a Febraban por causa de uma nota que defende a democracia e cobra harmonia entre poderes.

Na avaliação de parlamentares de diferentes partidos, esses episódios revelam fraqueza, isolamento e a vontade de manter um clima de confronto no país. O líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Renildo Calheiros (PE), diz que o interesse de Bolsonaro é tumultuar. “Praticamente todo o PIB brasileiro pede harmonia entre os poderes. E qual a resposta do presidente? Jair Bolsonaro coloca mais lenha na fogueira quando fala em público”, criticou.

Para a vice-líder da oposição na Câmara dos Deputados, Perpétua Almeida (PCdoB-AC), trata-se de um disparate. “Então os donos de parte do PIB, inclusive a Federação B de Bancos (Febraban), decidem soltar nota em defesa da Constituição e, a mando de Bolsonaro e Guedes, Banco do Brasil e Caixa se pronunciam contra o documento, ameaçando inclusive deixar a Febraban, é isso mesmo?”, postou a parlamentar no Twitter.

Na avaliação do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o episódio demonstra fragilidade de Bolsonaro. “Ao fazer um cavalo de batalha contra o manifesto Fiesp-Febraban que pregava tão somente harmonia e equilíbrio entre os poderes – uma platitude, convenhamos – Bolsonaro transborda fraqueza e se assume como agente promotor de desequilíbrio. O governo está caindo de podre!”, disparou o deputado.

Estabilidade

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), disse que tanto o BB quanto a Caixa deveriam ter interesse na estabilidade das instituições democráticas e no independência e harmonia entre os poderes. “Os bancos públicos não são bancos do presidente, são bancos do Estado brasileiro”, lembrou.

Ramos ainda fez comentário sobre a manifestação de entidades do agronegócio. “É sintomática do temor de uma ruptura da ordem democrática. Uma ruptura teria como efeito imediato embargos e bloqueios comerciais e o agro seria o primeiro a sofrer as consequências. É a crise descendo da consciência pro bolso”, escreveu no Twitter.

No mesmo sentido, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) elogiou a atitude do setor produtivo. “Até o Agro! Fiesp e Febraban hesitam, mas entidades do agronegócio divulgam manifesto pela democracia. Até setores patronais, apesar do interesse em pautas antipovo do governo, percebem que é caro o preço de um golpe fadado ao fracasso. O delinquente está se isolando ainda mais!”, postou o deputado.

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