Reféns do bolsonarismo, Banco do Brasil e Caixa deixam a Febraban

Documento assinado por Febraban e outras grandes entidades empresariais evidencia o desgaste e o isolamento crescentes do governo Bolsonaro

O Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal teriam decidido deixar a todo-poderosa Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, os dois maiores bancos públicos do País devem efetivar a debandada “nos próximos dias”. Reféns do bolsonarismo, os comandos do BB e da Caixa protestam contra a corajosa adesão da Febraban a um manifesto pró-democracia.

Intitulado “A Praça é dos Três Poderes” e liderado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o documento não cita nominalmente Jair Bolsonaro – mas é crítico às investidas golpistas do presidente. “As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas”, aponta o texto, conforme o Valor Econômico.

Além de cobrar “aproximação e cooperação entre Legislativo, Executivo e Judiciário”, o manifesto descreve um País imerso em diversas crises – política, econômica, social e sanitária: “O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população”.

O documento, assinado por grandes entidades financeiras e empresariais, evidencia o desgaste e o isolamento crescentes do governo Bolsonaro junto à sociedade civil. A dez dias dos atos golpistas chamados pelo presidente para 7 de setembro, setores que já foram simpáticas ao atual governo demarcam posição e sinalizam repúdio aos rumos autoritários do bolsonarismo.

Em contrapartida, integrantes do alto escalão federal seguem subalternos à “agenda de guerra de Bolsonaro”. Segundo o Valor, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, concordaram com a retaliação do BB e da Caixa, que hoje são presididas por apoiadores fiéis de Bolsonaro – Fausto Ribeiro e Pedro Guimarães, respectivamente.

Acusando uma “pressão política inaceitável”, eles ameaçaram deixar a Febraban em caso de assinatura do manifesto. “Se a Febraban se tornou uma central política, não faz sentido estar. Na hora em que o STF veio com tudo, não teve carta”, disse ao Valor uma “fonte ligada às instituições financeiras estatais”, adotando um tom indisfarçavelmente bolsonarista. Mesmo com a ameaça, a maioria dos bancos filiados à instituição aprovou, no voto, a adesão ao manifesto.

Contrariando os dados oficiais, esse interlocutor pró-governo diz que a economia brasileira já vem crescendo fortemente e que os números do emprego estão melhorando. À parte a narrativa fabulosa, as chefias dos bancos públicos dão a entender que ignoram – ou, pior, que apoiam – os ataques cada vez mais constantes de Bolsonaro ao Estado Democrático de Direito e, em especial, às instituições públicas. Tudo indica que, à margem da lei, o presidente tem cooptado órgãos federais para seu projeto pessoal de poder.

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