Bolsonaro falsificou relatório sobre morte pela Covid-19, confirma auditor

Alexandre Marques diz na CPI que o presidente adulterou o documento para divulgar, irresponsavelmente, que metade das mortes registradas por Covid-19, em 2020, foi em decorrência de outros motivos não relacionados ao coronavírus

Auditor Alexandre Marques depõe na CPI (Foto: Pedro França/Agência Senado)

Apontado como autor de um estudo falso sobre supernotificação de mortes pela Covid-19, o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques confirmou nesta terça-feira (17), na CPI da Covid, que o documento foi falsificado e chamou a atitude de Bolsonaro de irresponsável ao divulgar que metade das mortes pela doença, em 2020, foi em decorrência de outros motivos não relacionados ao coronavírus.

Após ser confrontado com um vídeo no qual esclarece o assunto ao TCU, Alexandre Marques confirmou ao relator Renan Calheiros (MDB-AL) que Bolsonaro apresentou um documento falso. Calheiros esclareceu que ele foi o responsável por produzir o relatório referido por Bolsonaro, irresponsavelmente, como de auditoria do órgão para justificar o discurso negacionista.

“O tribunal imediatamente desmentiu o presidente da República, que teve que se retratar publicamente. Não bastassem as informações equivocadas, ainda foi falsificado na Presidência da República para divulgação em redes sociais”, disse o relator.

No dia 31 de maio, de acordo com o auditor, ele redigiu um documento no formato world de duas páginas para provocar um debate na equipe de auditoria com informações públicas. No dia 6 de junho, o documento foi entregue para o seu pai que repassou no dia seguinte para Bolsonaro. Ele confirmou que o documento foi adulterado após o seu pai ter entregue ao presidente.

Ao contrário de um cabeçalho contendo a marca do TCU, Alexandre Marques disse que no seu “rascunho” não tinha menção ao Tribunal. No documento também não havia data, assinatura e nem trecho marcado, conforme foi divulgado no formato PDF.

“Em nenhum momento, afirmei que houve supernotificação de óbitos por covid-19 no Brasil. Apenas havia compilado algumas informações públicas para provocar um debate junto à equipe de auditoria”, disse o auditor aos senadores.

No dia 7 de junho, Bolsonaro afirmou para apoiadores que possuía um relatório do TCU que revelava que metade das mortes por Covid-19 não foram causadas pela doença: “Primeira mão para vocês. Não é meu, é do tal do Tribunal de Contas da União, questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. O relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União.”

“O depoente já confirmou que só mandou o documento para seu pai, amigo pessoal do presidente. E que seu pai mandou para o presidente. Já pode encerrar o depoimento. Bolsonaro sabia que estava mentindo para os brasileiros. Este jogo de mentiras em rede social matou e continua matando brasileiros”, disse o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), um dos autores do requerimento que convocou o auditor.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD) fez uma dura crítica ao depoente: “Você não contribuiu em nada. Como servidor foi um desserviço ao Brasil.”

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