Bolsonaro ajudou a vender ivermectiva que não serve para tratar Covid-19

O presidente e sua família defenderam o uso do medicamento para tratamento precoce da Covid-19 e ajudaram a elevar a venda do produto no país. É o que reconhece na comissão o diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista, que depõe na CPI

Jailton Batista depõe na CPI (Foto: Foto: Jefferson Rudy)

Como garoto propaganda da invermectina, medicamento sem eficácia no tratamento da Covid-19, Bolsonaro ajudou a elevar a venda do produto no país. É o que reconheceu o diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista, que depõe na CPI da Covid nesta quarta-feira (11). Ele disse não saber medir os impactos da fala do presidente e de sua família a favor do remédio, mas reconheceu que na época houve um crescimento considerável do faturamento da empresa na venda do produto.

Proposto pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES), a CPI vai requisitar à Justiça, cautelarmente, o bloqueio de recursos da empresa para o pagamento de indenizações às famílias das vítimas da Covid-19 que utilizaram o medicamento como forma de tratamento.

Jailton Batista reconheceu que no momento em que a eficácia do medicamento começou a ser questionada houve uma redução da venda. “Depois, quando a pandemia voltou novamente a tornar-se crítica, que foi no final do ano passado, a partir de novembro e dezembro, a demanda voltou a aquecer um pouco, mas também tem momentos de redução por conta da crítica, a mídia às vezes faz críticas, quer dizer, não favoráveis e aí há uma redução também”, explicou.

“Veja que o aumento exatamente nos momentos de pico da pandemia está diretamente relacionado com a campanha que o presidente da República empreendeu”, observou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ao relator Renan Calheiros (MDB-AL).

Renan Calheiros exibiu durante a sessão vídeos de Bolsonaro estimulando a população a usar invermectina e ainda declarando que se curou da Covid-19 usando o medicamento, que ganhou fama após lobby do presidente desde o início da pandemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu, ainda no passado, que o medicamento não tem eficácia no tratamento da doença.

Relatórios entregue à CPI apontam que as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020, um crescimento superior a 1.105%. O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90, um incremento de 226%.

“Há um outro (dado) que demonstra aqui na Comissão Parlamentar de Inquérito: em relação a 2019, os lucros com a ivermectina cresceram 2.900%, e os gastos, esse dado também é muito importante, de municípios com o medicamento cresceram 5.537 vezes”, revelou o relator.

Propaganda

Além de Bolsonaro, a empresa foi favorecida com propaganda nacional estimulando o uso do medicamento. A Vitamedic pagou um manifesto da “Associação Médicos pela Vida” nos grandes jornais de circulação no pais defendendo o tratamento precoce com a medicação.

De acordo com o depoente, a empresa assumiu o custo da veiculação de um manifesto da entidade em jornais em 16 de fevereiro sobre “medicamentos contra covid-19”.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse que há um ciclo da morte envolvendo o caso. “O presidente República incentiva, a empresa salta de um faturamento de R$ 15 milhões para R$ 466 milhões, crescimento de 3.000%, população pobre compra, e a há o custeio de entidade para propagar fake news. Ou seja, um ciclo que é incentivado na sua origem pelo presidente e a empresa ao invés de trabalhar na publicidade para informação correta, paga propaganda criminosa”, argumentou.

Empresário

O requerimento original previa a presença de outro representante da Vitamedic, o empresário José Alves Filho. A convocação dele foi sugerida pelo relator da comissão.

O empresário teve os sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário quebrados pela CPI. Alegando tratar apenas de investimentos, ele sugeriu que fosse ouvido o diretor. No entanto, um vídeo que chegou aos senadores, demonstra que o dono da empresa atuava a favor do medicamento precoce. Os senadores concluíram que foram ludibriados.

“A troca do depoente da Vitamedic, de José Alves (acionista) para Jailton Batista (superintendente), ao nosso ver, foi uma manobra da empresa tendo em vista que o mesmo sabe bem do que se tratam as acusações. Infelizmente, hoje teremos acesso ao placebo, não ao princípio ativo”, afirmou Randolfe Rodrigues.

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