Reverendo por Deus e coronel pela pátria escondem o real, diz senadora

Simone Tebet diz que os depoimentos de Amilton de Paula e Marcelo Blanco usam indevidamente o que existe de mais sagrado: “Deus e pátria, para esconderem o real: foi em nome próprio. Dinheiro, propina, corrupção à custa da dor e de vidas.”

Senadora Simone Tebet (Foto: Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Os depoimentos do reverendo Amilton de Paula e do coronel Marcelo Blanco à CPI da Covid nesta terça e quarta-feira (4), respectivamente, estão na mesma linha. Ou seja, ambos escondem a verdade para não revelar os verdadeiros responsáveis pela tentativa de venda e esquema fraudulento de compra de vacina superfaturada pelo Ministério da Saúde.

“A régua de hoje é a mesma régua de ontem: ontem foi em nome de Deus, hoje é em nome do patriotismo, nunca em nome próprio”, resumiu a senadora Simone Tebet (MDB-AL), uma das mais atuantes da bancada feminina no colegiado.

De acordo com ela, ambos usam indevidamente o que existe de mais sagrado: “Deus e pátria, para esconderem o real: foi em nome próprio. Dinheiro, propina, corrupção à custa da dor e de vidas”, criticou.

Após chorar e reconhecer erros, o reverendo disse aos senadores que intermediava a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca pela Davati Medical Supply (empresa norte-americana) com o governo Bolsonaro por razões humanitárias. Já o coronel Blanco alegou que ajudou o mesmo grupo no sentido de trazer vacinas para o país.

Os dois negociaram vacinas que nunca existiram e o cabo da PM de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti, preposto de Cristiano Carvalho, representante comercial da empresa, acusou pedido de propina feito pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, apontado como operador do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder de Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

Enquanto a Pfizer, por exemplo, insistia nos 101 emails com oferta de vacina e o Instituto Butatan por meio de três ofertas, o que poderia viabilizar a vacinação da população já em dezembro do ano passado, o Ministério da Saúde abria suas portas para facilitar negociação com picaretas que agiam como intermediários.

Acareação

Para a senadora Tebet, não há dúvidas que os dois mentiram na CPI. Ela diz que vai insistir na acareação para verificar quem diz a verdade ou “mente mais”. “Estavam todos interessados em outra coisa: comercializar com o governo federal contratos privados ou mesmo públicos de compra de vacinas superfaturadas”, diz a senadora.

Na avaliação dela, o modus operandi era justamente esse. “Esse depoimento não vai sair disso, e essa acareação vai ser necessária, senão nós não vamos conseguir fechar essa caixinha dos intermediários. Não é, repito, pra ver quem vai dizer a verdade, é pra ver quem mente menos ou quem mente mais nesta CPI”, concluiu.

Autor