SP anuncia vacinação anual contra covid e atropela Ministério da Saúde

Ministério contesta a necessidade e estuda a possibilidade de uma terceira dose como reforço.

Planejamento de vacinação é anunciado enquanto o vice-governador do Estado de São Paulo Rodrigo Garcia entrega um milhão de doses da vacina do Instituto Butantan para o PNI. Dia: 19/07/2021 Foto: Governo do Estado de São Paulo

O governo do estado de São Paulo anunciou hoje (19) que a partir de 17 de janeiro do ano que vem iniciará o ciclo de vacinação anual contra o novo coronavírus, assim como é feito com a influenza. A data coincide com a mesma na qual foi iniciada a imunização em 2021. A decisão não tem a autorização do Ministério da Saúde, que contesta a iniciativa.

O anúncio gerou resposta reativa do Governo Federal, conforme o estado esteja sempre se antecipando em termos de planejamento sanitário. Como o Ministério da Saúde teve uma coordenação nacional tumultuada sobre a gestão da pandemia, com o presidente Bolsonaro atrapalhando todas as medidas científicas, o governador João Dória aproveita para se destacar, antecipando medidas que deveriam ser anunciadas pela Campanha Nacional de Imunização.

Em nota emitida após o anúncio, o Ministério da Saúde informa que, até o momento, não há evidência científica que confirme a necessidade de doses adicionais das vacinas covid-19. “A recomendação é que estados e municípios sigam o que é definido pela Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, que é pactuada entre União e gestores estaduais e municipais, e pelo PNO”, completou o governo.

Terceira dose

O secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, explicou que a continuidade da vacinação contra a covid-19 anualmente trata-se não de reforço vacinal, de refazer a proteção, o que já é conhecido como prerrogativa de todos os vírus respiratórios. Com isso, o governo paulista entra em conflito com a hipótese de terceira dose estudada pelo Ministério da Saúde.

“Precisamos fazer com que haja proteção da população de forma constante uma vez que, assim como o vírus H1N1, da gripe, chegou para ficar e ainda está no nosso meio, o corona também ficará. Como a formulação da vacina permite associação de novas cepas é capaz que tenhamos dentro de uma próxima vacina mais de um tipo de proteção”.

Segundo ele, não há ainda nenhum estudo específico para a aplicação de terceira dose da CoronaVac neste momento a preocupação atual é garantir a primeira e a segunda dose a todos os brasileiros. O governo espera ainda a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a vacinação de crianças e adolescentes, com base em um estudo feito em pessoas de 3 a 17 anos.

A Anvisa autorizou hoje a realização de estudo clínico para aplicação de uma terceira dose da vacina AstraZeneca contra a covid-19 em voluntários que receberam as duas doses iniciais, com o intervalo de quatro semanas. O estudo deve avaliar a segurança, eficácia e imunogenicidade (se a vacina é capaz de produzir resposta imune) da dose de reforço.

O gerente-geral de medicamentos da agência, Gustavo Mendes, disse que acha precoce dizer que haverá uma campanha anual de vacinação. “Acho cedo para falar em vacinar todo ano, a cada seis meses, porque quando tiver cobertura vacinal suficiente, pode ser que chegue a situação em que a gente não se preocupe mais com o vírus e as formas graves dele. É preciso que dados sejam gerados para que a gente tenha certeza”.

A ideia de uma terceira dose tem sido cogitada pelo mundo, conforme países avançados na vacinação como Israel e Chile começam a apresentar nova alta de contágios, sugerindo que a vacina já tenha perdido a eficácia da imunidade. Embora proteja contra casos graves, o aumento do contágio começa a lotar, novamente, os hospitais de doentes.

Campanha mais tranquila

Gorinchteyn lembrou que estudos mostraram a eficiência da CoronaVac contra a variante Delta, que surgiu na Índia e já circula no Brasil e reforçou que a partir de 2022, além da liberação para a produção completa do imunizante no país, depois da transferência de tecnologia da Sinovac para o Butantan, já será possível contar também com a Butanvac, após autorização pela Anvisa.

Segundo o secretário, os testes clínicos da Butanvac, iniciados em 9 de julho, na cidade de Ribeirão Preto, avaliarão em duas fases tanto a eficácia quanto a dosagem. “Quando em 17 semanas de estudos se consagrar a segurança efetividade pela Anvisa, imediatamente teremos 40 milhões de doses que serão disponibilizadas para, inicialmente, o estado de São Paulo e, à medida que  a produção aumentar, para todo o país”.

A expectativa do governo paulista é de que a campanha de vacinação, que neste ano deverá durar pelo menos oito meses, seja mais tranquila no ano que vem. Para isso, consideram um provável cenário de controle da pandemia, com toda a população adulta com o ciclo vacinal completo, além de mais disponibilidade e menos corrida por doses.

Metade do estado

São Paulo se tornou hoje o primeiro estado a aplicar ao menos uma dose de vacina contra a covid-19 em mais de 50% da população. Segundo números atualizados às 17h35, 23.454.806 pessoas já tomaram a primeira dose em São Paulo, o que representa 50,67% do número de habitantes do estado (46.289.333).

Outros 18,11% já tomaram as duas doses, no caso da CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer, ou receberam o imunizante da Janssen, que é de dose única. Vale lembrar que, na prática, apesar de a primeira dose já conferir algum tipo de proteção, a imunização contra a covid-19 só está completa após a segunda, que não é dispensável. Neste quesito, o RS passa à frente de SP, com 22,40%.

O Estado de São Paulo registra nesta segunda (19) 6.834 pacientes internados em enfermaria pela covid-19, depois de 152 dias dias com balanços acima desta marca. Balanço similar havia sido alcançado pela última vez no dia 17 de fevereiro, com 6.766 pacientes em leitos clínicos. Atualmente, há também 7.234 pacientes em leitos de UTI, número que baixou em mais de mil internados em leitos do tipo nos últimos 10 dias. A taxa de ocupação dos leitos de UTI no estado é de 61,6% e, na Grande São Paulo, de 57,2%. 

Ontem, o Brasil ultrapassou a marca de 33,8 milhões de pessoas que completaram a vacinação contra a covid-19, o equivalente a 15,98% da população nacional. O total de imunizados com a primeira dose chegou a 88.942.995, o correspondente a 42% da população do país.

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