Representante da Davati confirma pedido de propina pela compra de vacina

Diante da oferta de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca a U$ 3,50 a unidade, o ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias teria pedido propina de U$ 1 por dose.

Cristiano Carvalho depõe na CPI (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O representante informal no Brasil da empresa Davati, Cristiano Carvalho, confirmou nesta quinta-feira (15) à CPI da Covid que houve o pedido de propina pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, que seria indicado pelo Centrão de Ricardo Barros (PP-PR), o líder de Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

O fato foi relatado a ele pelo cabo da PM Luiz Dominguetti, que falava em nome da empresa. Diante da oferta de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca a U$ 3,50 a unidade, o ex-diretor teria pedido propina de U$ 1 por dose.

“A informação que veio a mim, vale ressaltar isso, não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon”, disse. O pedido teria ocorrido no dia 25 de fevereiro no restaurante Vasto, em Brasília. No local, estava presente o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde.

À CPI Roberto Dias garantiu que se encontrou por acaso em um shopping com Dominguetti e que nunca tinha ouvido falar em Davati. No entanto, o representante da Davati apresentou mensagens do ex-diretor com ele no o WhatsApp, no dia 3 de março, em que o ex-diretor se apresentava e pedia uma conversa.

“Eu nunca entrei em contato com o Ministério da Saúde, foi o Ministério da Saúde quem me procurou, por meio do senhor Roberto Ferreira Dias”, revelou. Ele também admitiu que a Davati não tinha as 400 milhões de doses que estava negociando.

Cristiano Carvalho revelou ainda que foi levado, no dia 12 de março, ao Ministério da Saúde por Dominguetti, o reverendo Amilton Gomes, da Secretaria de Assuntos Humanitários (Senah) e pelo coronel Hélcio Bruno presidente do Instituto Força Brasil. Na ocasião, houve reunião com o secretário-executivo da pasta, Elcio Franco.

O representante da empresa leu uma carta enviada por Herman Cardenas, presidente da Davati nos EUA, para o então secretário-executivo. No documento, a empresa apresentava como mais viável, do ponto de vista econômico, a vacina da Johnson & Johnson.

“O depoente traz, do ponto de vista da investigação, uma informação absolutamente nova, a de que ele não teria relações com o Ministério da Saúde, e quem o levou para tratar da venda de vacinas da Davati foram exatamente o Dominguetti, o coronel Hélcio Bruno e o reverendo Amilton”, afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).

Vacina fantasma

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que enquanto a Pfizer se humilhava com dezenas de e-mails enviados ao governo, o representante do Ministério da Saúde corria atrás não de outra vacina, mas de propina. “O governo estava ‘investindo’ em um produto que sequer existia. Não havia vacina para vender, o governo estava atrás de propina! Reitero: milhares de brasileiros morriam entre um chope de negociação de vacina fantasma”, criticou o senador.

“Nós temos a confirmação aqui na CPI, de uma associação de vários coronéis das Forças Armadas Brasileiras em uma verdadeira operação Tabajara para a compra de vacinas. Enquanto isso, vidas são perdidas! A culpa é de quem?”, indagou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

“Roberto Dias, demitido após ser acusado de cobrar propina de 1 dólar por dose enquanto tomava chope, não tinha competência para negociar vacina. Mas foi atrás insistentemente da Davati para fazer negócio”, criticou o senador Humberto Costa (PT-PE).

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