Inflação pode encerrar 2021 em dois dígitos, afirma economista

Energia deve seguir pressionando. Última vez que IPCA alcançou dois dígitos foi em 2015, quando ficou em 10,67%. Antes, havia fechado em 12,53% em 2002.

Conta de luz subiu 14,2% em 12 meses e deve aumentar mais- Foto - Marcos Santos/USP Imagens

A inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fechou em 0,53% em junho e acumula alta de 8,35% em 12 meses. A vilã do momento é a energia elétrica, que deve subir mais com a decisão do governo de Jair Bolsonaro de empurrar a crise hídrica para o bolso do consumidor.

No penúltimo dia de junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou reajuste de 52% sobre a tarifa da bandeira vermelha 2 da conta de luz (aplicada quando o custo de produzir energia aumenta), que chegou a R$ 9,49 por 100 kWh. Os dados do IBGE abrangem período em que a bandeira tarifária ainda não havia sofrido reajuste e era de R$ 6,243.

A energia elétrica residencial subiu 1,95% em junho e acumula alta de 14,2% em 12 meses. Gastos como alimentação e bebidas (0,43%) e combustíveis (0,87%) também contribuíram para a inflação de junho. No caso de energia e combustíveis, ambos contribuem

Para o economista Marco Rocha, da Unicamp, os dados de junho e a conjuntura apontam para uma inflação acima das projeções do mercado para o fim de 2021. Segundo a pesquisa Focus, do Banco Central, analistas de instituições financeiras projetam o IPCA em 6% no final do ano, acima do teto da meta estabelecida pelo governo federal, que é 3,75%.

No entanto, Rocha vê a inflação no fechamento do ano próxima a 8% e não descarta que chegue a dois dígitos. “Acredito que vai chegar a um índice bastante parecido [com o acumulado de junho], caso não haja piora quanto à crise hídrica e pressão dos preços de commodities. Não me espantaria se chegasse a dois dígitos”, comenta.

A última vez que o IPCA alcançou dois dígitos foi em 2015, quando fechou o ano 10,67%. Era o segundo mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff e Joaquim Levy ocupava o cargo de ministro da Fazenda. Era a maior inflação de 2002, quando o IPCA fechara em 12,53%.

Segundo Marco Rocha, o que pode causar um resultado semelhante agora é o fato de que energia e combustíveis são itens cujos preços podem puxar a inflação em outros grupos.

“Como a gente deve ter reajustes programados até o final do ano em relação a energia elétrica e combustíveis, isso vai se espalhando ao longo da cadeia. Além disso, há uma memória inflacionária devido aos mecanismos de indexação existentes. O IGP-M do ano passado ainda deve rebater em alguns preços, então a gente ainda deve ter um repique tanto da inflação do ano passado quanto deste ano”, afirma o economista.

Rocha diz ainda que devem se confirmar as projeções do mercado de recomposição do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e riquezas produzidos por um país no prazo de um ano) em 2021, mas prevê que será uma recuperação bastante concentrada setorialmente – em setores como o agronegócio, por exemplo, que se beneficia da alta das commodities.

“Vai ter um crescimento, só que muito concentrado setorialmente e com o índice de inflação elevado perceptível principalmente para as classes mais baixas. Será um crescimento concentrador de renda e que provavelmente não vai se refletir muito no emprego”, conclui.

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