Cai por terra na CPI da Covid tentativa de desqualificar irmãos Miranda

Os irmãos Miranda entregaram a Bolsonaro documentos que apontam irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. Apesar de prometer levar o caso à Polícia Federal, o presidente não tomou essa iniciativa, sendo acusado de prevaricar

Luiz Dominguetti durante depoimento na CPI (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Sob suspeita de ser usado por governistas, a testemunha Luiz Paulo Dominguetti, cabo da PM de Minas Gerais e representante da Davati Medical Supply, tentou implantar nesta quinta-feira (1º), na CPI da Covid, um áudio no qual sugere que o deputado Luis Miranda e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, intermediaram compra da vacina. O depoente teve o telefone apreendido por ordem do relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).

Os irmãos Miranda entregaram a Bolsonaro documentos que apontam irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. Apesar de prometer levar o caso à Polícia Federal, o presidente não tomou essa iniciativa, sendo acusado de prevaricar.

Durante o depoimento, o deputado Luis Miranda procurou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), para dizer que o áudio não tem nada ver com a compra de vacina e, sim, negócio dele nos Estados Unidos. Para conversar com o deputado, Aziz foi acompanhado do governista Marcos do Val (Podemos-ES).

“Fiz questão de conversa com ele. Levei o Marcos do Val junto. Ele disse que é uma negociação nos Estados Unidos que nem fala em vacina. Ele foi a agora a Polícia levar o áudio completo e fazer uma denúncia-crime”, disse o presidente da CPI.

Renan Calheiros reagiu duramente a tentativa de desqualificar o deputado Miranda e levantou suspeitas sobre interferência do governo Bolsonaro na CPI. “Na semana passada, esse proprietário da Precisa (Francisco Maximiano) entrou com um pedido de habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal diretamente para o gabinete de um ministro, tentando, com isso, burlar o STF, sem submeter ao sorteio eletrônico. Ontem, nós tivemos uma eloquente utilização da instituição da Polícia Federal, porque, não sendo investigado nesta comissão, o senhor Maximiano teve contra si aberta uma investigação na Polícia Federal, e essa investigação serviu de base para a concessão do habeas corpus pela Ministra Rosa Weber”, criticou, referindo-se ao empresário da empresa que intermediou a compra da vacina.

Ao tocar o áudio na CPI, Luiz Paulo Dominguetti diz que o deputado procurou a Davati. “Se não me engano, o Cristiano, inclusive, tentando negociar a aquisição de compra de vacinas”, disse o depoente. No entanto, no áudio o deputado não usa a palavra vacina. Cita carga, produto. Cita comprador, não diz o nome. Ele também usa gíria “meu irmão” pela qual Dominguetti deu a entender que seria o irmão do parlamentar.

O representante da empresa Davati Medical Supply Cristiano Alberto Carvalho no Brasil, negou que o áudio do deputado, recebido por ele e divulgado na CPI, tratasse da negociação de vacinas

Denúncia

No depoimento, Luiz Dominguetti confirmou ter recebido um pedido de propina do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, exonerado nesta quarta-feira (30). Pela venda de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca a US$ 3,50 a unidade, o ex-diretor teria pedido de propina US$ 1 por dose.

As tratativas foram feitas no dia 25 de fevereiro no restaurante Vasto no Brasília Shopping, área central da capital federal. “Nós temos que melhorar esse valor, não para baixo, para mais, e pediu o acréscimo de US$ 1. De imediato disse que não podia fazer. O clima na mesa mudou e logo se encerrou o jantar”, contou o representante sobre o encontro. Além de Roberto Dias, estavam no jantar o coronel Marcelo Blanco e um empresário de Brasília, quem não soube foi identificar.

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