CPI convoca empresário que acusou cobrança de propina pelo governo Bolsonaro

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira disse que recebeu a proposta de pagamento de propina do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante jantar num restaurante em Brasília

(Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A CPI da Covid aprovou nesta quarta-feira (30) a convocação de Luiz Paulo Dominguetti Pereira que denunciou cobrança de propina no Ministério da Saúde ao tentar vender doses da vacina AstraZeneca ao governo Bolsonaro. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o empresário, que representa a empresa Davati Medical Supply, disse que recebeu a proposta de corrupção num jantar, em 25 de fevereiro, num restaurante em Brasília, feita pelo diretor de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, que estava acompanhado de mais duas pessoas: um militar e um empresário de Brasília.

Emails da Davati Medical Supply com o Ministério da Saúde comprovam que houve negociação da venda de 400 milhões de doses da vacina ao preço de U$ 3,50 cada. No restaurante, o empresário ouviu que precisava “compor com o grupo”, majorando em US$ 1 o preço de cada dose.

Além da convocação, o requerimento apresentado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também solicitou as imagens do restaurante Vasto, no Brasília Shopping, localizado na região central da capital, onde o diretor do Ministério da Saúde teria feito a proposta.  

Em resposta a bancada governista que tentava desviar do foco da pauta da CPI, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) ressaltou a gravidade do fato. “Nós estamos diante de uma denúncia nacional da tentativa de se ter uma propina de aproximadamente R$ 2 bilhões, porque seria US$ 1 para cada 400 milhões de doses a serem compradas por este Governo. Nós temos a imprensa do Brasil e fora do Brasil destacando essa denúncia bombástica, necessidade de prorrogação desta CPI”, afirmou a senadora.

O relator Renan Calheiros (MDB-AL) disse que o colegiado chegou “a casos escabrosos de corrupção”. “Até então nós estávamos aqui investigando o porquê de o negacionismo ideológico ter conscientemente proporcionado a morte de 516.119 brasileiros. Agora, nós vemos que o trabalho que aqui começamos era até otimista, porque nós nos deparamos com um câncer, com o câncer da corrupção. E precisamos mais do que nunca priorizá-lo, investigá-lo, não é? As digitais estão todas postas”, disse o relator.

Mais caso de propina

Além do empresário, os senadores aprovaram uma nova oitiva para ouvir o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). O parlamentar, que levou a Bolsonaro as denúncias de corrupção no Ministério da Saúde, disse a Revista Crusoé que recebeu a oferta de seis centavos de dólar por unidade da vacina indiana Covaxin para que ele não denunciasse o esquema.

“Eu estava indo para o carro, e o cara fala: ‘Deputado, se puder ajudar a gente com a questão da vacina, consigo colaborar com você, com a sua campanha, com 6 centavos de dólar por unidade’. Aí eu falo assim: ‘Está ficando louco, meu irmão? Não estou entendendo o que você está falando. Se você falar isso novamente, vou ter que te dar voz de prisão’. E ele diz: ‘O que é isso deputado, estou falando com o empresário… O senhor também não é empresário?’. E eu digo: ‘Não, amigo. Eu sou parlamentar, não trabalho com vacina, como você quer que eu te ajude?’. Aí ele diz: ‘Então esquece. Se o senhor se incomodou, se eu lhe ofendi, então esquece’. E deu um sorriso. Eu olhei para ele com cara de quem comeu e não gostou e fui embora”, disse.

Nesta quarta-feira (30), a CPI ouve o empresário Carlos Wizard, que durante o interrogatório passa o maior tempo em silêncio, usando o direito garantido no habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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