400 mil mortes poderiam ter sido evitadas, diz epidemiologista na CPI

“No Brasil, desde o começo da pandemia, morreram 2.345 pessoas para cada 1 milhão de habitantes. No mundo, é menos do que 500”, explicou o pesquisador

O epidemiologista Pedro Hallal; o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM); e diretora-executiva da Anistia Internacional Jurema Werneck (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

O pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal apresentou um estudo nesta quinta-feira (24), na CPI da Covid, dando conta de que 400 mil vidas poderiam ter sido poupadas se o Brasil estivesse na média mundial do número de mortes por 1 milhão de pessoas.  “No Brasil, desde o começo da pandemia, morreram 2.345 pessoas para cada 1 milhão de habitantes. No mundo, é menos do que 500”, explicou o epidemiologista.

De acordo com ele, quatro de cada cinco mortes teriam sido evitadas se estivéssemos na média mundial. “Não é se estivéssemos com um desempenho maravilhoso, como a Nova Zelândia, Coreia, Vietnã. Se nós estivéssemos na média, um aluno que tira nota média na prova, nós teríamos poupado 400 mil vidas no Brasil”, disse.

Pedro Hallal destacou que o Brasil tem 2,7% da população mundial; e, desde o começo da pandemia, o país concentra praticamente 13% das mortes por Covid no mundo. “No dia de ontem, uma de cada três pessoas que morreram por Covid no mundo foi no Brasil, 33% das mortes por Covid no planeta aconteceram no país que tem 2,7% da população mundial. Portanto, é tranquilo de se afirmar que quatro de cada cinco mortes no Brasil estão em excesso, considerando o tamanho da nossa população”, assegurou.

O atraso da compra das vacinas Pfizer e da Coronav, diz o pesquisador, resultou na morte de 95,5 mil brasileiros. Ele diz que outros pesquisadores, utilizando também dados sobre o ritmo da vacinação, estimam 145 mil mortes.

Para o pesquisador, o erro mais grave foi a falta de uma política de comunicação unificada com o estímulo sobre o uso máscaras e para evitar aglomerações.

Mortes evitáveis

A médica Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta, apresentou outro estudo demonstrando que, no Brasil, de março de 2020 a março de 2021, 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas se medidas não farmacológicas tivessem sido adotadas no Brasil como uso de máscara, distanciamento físico e restrição de mobilidade.

“Essa era a parte da redução da transmissão, mas tem outra parte, que é a preparação do sistema de saúde. A pandemia foi anunciada no fim (…) Sabíamos que corríamos um risco bastante significativo de ela chegar até aqui. Então, o que a gente tem que fazer? Pessoas vão adoecer, é preciso preparar o sistema de saúde para receber os pacientes e salvar as vidas”, afirmou.

Segundo ela, medidas teriam que ser tomadas no início como oferta de profissionais treinados e leitos de UTI. “Víamos, pelo histórico da doença na China, na Europa, que a demanda de leitos hospitalares e CTI era muito alta. Então, tínhamos que preparar isso porque ia chegar aqui. Tinha uma vantagem temporal porque, quando ainda estava acontecendo na Europa, ainda não estava acontecendo aqui. Tínhamos uma vantagem temporal”, lembrou.

“Muitos e muitas de nós seguiram as recomendações de evitar a transmissão, aqueles que puderam, evidentemente. Aqueles que puderam usaram máscara de qualidade, aqueles que puderam ficaram em casa, aqueles que tiveram consciência e puderam não fizeram aglomerações. Mesmo assim, nós chegamos a 305 mil mortes em excesso e 120 mil que poderiam ter sido evitadas. Se a gente conseguisse implementar as medidas de forma consistente isso não teria acontecido”, lamentou.

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