Renan Calheiros desmascara Osmar Terra: “Nenhum de seus prognósticos se realizou”

“Não é a vacina que vai acabar com a pandemia, quem vai acabar é imunidade de rebanho”, disse o deputado em vídeo exposto na CPI pelo relator

Deputado Osmar Terra depõe na CPI (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Os vídeos expostos durante o depoimento de Osmar Terra (MDB-RS) nesta terça-feira (22), na CPI da Covid, tiveram efeito demolidor contra a posição negacionista do deputado. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que nenhum dos prognósticos otimistas dele se realizou, entre os quais estão: “O H1N1 matou muito mais gente do que o coronavírus vai matar”; “vamos entrar em junho (de 2020) praticamente sem epidemia”; e “a epidemia vai terminar sem a vacina.”

“Não é a vacina que vai acabar com a pandemia, quem vai acabar é imunidade de rebanho”, disse o deputado em outro vídeo exposto na CPI pelo relator, demonstrando também que as diversas argumentações de Terra eram repetidas seguidamente por Bolsonaro. O relator deixou claro que ele era uma espécie de guru do presidente no chamado “gabinete paralelo.”

O deputado disse que concordava com o presidente sobre o lockdown. “Estamos com 500 mil mortes no Brasil com o sistema de lockdown e quarentena dos governadores. O Supremo Tribunal, em 15 de abril de 2020, impediu, limitou o poder do presidente de interferir nessas decisões”, disse ele, referindo-se equivocadamente a uma decisão do STF que garante responsabilidade compartilhada entre todos os entes da federação.

“Impressionante é o ventríloquo, que geralmente fala o que o deputado fala também”, ironizou o relator. “Veja a contradição: agora o deputado diz ser a favor das vacinas, mas não era o que vinha dizendo com o presidente da República, certamente combinando, porque ele reproduzia praticamente o que o deputado Osmar Terra dizia com relação à imunidade de rebanho”, completou.

Na avaliação do relator, há um claro “casamento temporal” entre as manifestações das opiniões do deputado e as de Bolsonaro, o que evidencia mais uma vez que algumas pessoas de fora do Ministério da Saúde aconselhavam o presidente quanto às políticas de saúde a serem adotadas no Brasil.

Terra se defendeu dizendo que subestimou a pandemia. “As previsões foram feitas baseadas nos fatos que existiam na época, em março”, disse. Para ele, suas posições sobre a imunidade de rebanho não chegaram a influenciar Bolsonaro. Disse que o presidente ouve diversos especialistas sobre o assunto. “O presidente fala o que ele quer falar, ele fala do jeito que ele entende. Eu não tenho poder sobre o presidente de o senhor vai falar isso, var falar aqui”, disse ele.

As falas dele, no entanto, não convenceram. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), interveio durante o interrogatório: “Eu tenho certeza de que o presidente Bolsonaro, certeza absoluta, não acordou um dia e disse: Olha, imunização de rebanho é bom, tratamento precoce é bom.”

Gabinete paralelo

Renan afirmou para Terra que a CPI já identificou a existência de um gabinete paralelo que se afasta das evidências e abordagens cientificas. Pediu para tocar o vídeo da reunião do Palácio do Planalto, em 8 de setembro do ano passado, no qual aparece o presidente sendo aconselhado sobre o tratamento precoce e restrição quanto a vacinação. Nele estava, entre uma turma de médicos, o virologista Paolo Zanoto, a médica Nise Yamaguchi, e Terra, considerado padrinho do grupo.

O deputado respondeu que se tratava de um vídeo editado pelo site Metrópoles e negou a existência de um gabinete paralelo, pois se tratava de uma reunião pública acompanhada por mais de 20 mil pessoas na internet.

No final, o relator ressaltou que ficaram evidentes as contradições do deputado e os desmentidos expostos nos vídeos. Ao contrário do que disse Terra, Renan alertou que o lockdown funciona como medida de proteção contra a pandemia e, que, em Manaus, não houve imunidade de rebanho, conforme afirmou o parlamentar. Também destacou que o exemplo da Suécia, citado pelo deputado, não é o melhor a ser seguido, pois os piores índices da pandemia foram registrados naquele país e o premiê afastado por sua posição negacionista na segunda-feira (21).

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