Por que estamos na terceira onda de covid-19?

Embora as ondas da curva epidemiológica brasileira constantemente paralisem no alto, por meses, novo aumento de contágios e mortes parece configurar a subida de uma nova montanha.

#lutopormeioMilhão • Nesta noite de segunda-feira (21) no Largo da Memória, no Anhangabaú, no Centro de São Paulo, os movimentos sociais acenderam 500 velas simbolizando as 500 mil vítimas mortas sobre o descaso do desgoverno de Jair Bolsonaro #forabolsonaro Fotos: Elineudo Meira / @fotografia.75

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, disse nesta segunda-feira que a aceleração no número de casos de Covid-19 apontam que estamos “diante de uma terceira onda” da pandemia no país. Segundo ele, está começando” a escalada da montanha”.

A informação tem sido cercada de controvérsias, devido às características peculiares do (des)controle da pandemia no Brasil. Em outros países, a curva epidemiológica tem sido muito clara em relação à definição de onda de contágios e óbitos. A aceleração é rápida, chega ao pico e cai vertiginosamente, conforme ocorrem os lockdowns rigorosos e nacionalizados.

Curva de óbitos do Reino Unido mostra claramente subida e descida das ondas a patamares baixíssimos, conforme as medidas de controle do contágio são implementadas

O Brasil, por sua vez, manteve ondas muito prolongadas, que se caracterizaram por chegar ao pico e permanecer nele por semanas ou meses, os chamados platôs. As quedas nunca são bruscas, mas mantém o patamar de óbitos muito alto. Com isso, fica difícil desenhar curvas nítidas e evidentes das ondas.

A dificuldade de definir momentos de controle do contágio se dá devido à falta de coordenação nacional. Cada município ou estado segue seus próprios protocolos de proteção da população, com alguns gestores de estados e municípios agindo como negacionistas da pandemia para não desagradar o empresariado local. Assim, somente recentemente algumas cidades realizaram lockdown mais rigoroso, o que perde a eficácia conforme as cidades vizinhas agem de forma diferente.

Questiona-se o conceito de terceira onda devido a sua inconsistência, se comparada com os períodos de contágios e óbitos anteriores.

Lula justifica que o número de casos ativos, diários, não diminuiu desde março. O avanço da vacinação ajudou a diminuir o número de óbitos em abril e maio, chegando ao patamar mínimo de cerca de 1.700 óbitos diários. No entanto, agora está sendo registrado um novo aumento no número de mortes, voltando a ultrapassar o patamar de dois registros a cada 24 horas. Neste último fim de semana, 12 estados tiveram óbitos em alta.

Assim, para ele, embora tenhamos “baixado” a um patamar de cerca de 1.700 óbitos diários, teríamos concluído uma segunda onda. “Agora, com a contínua aceleração do número de casos, isso deixa claro que a gente já está diante de uma terceira onda”, defende o presidente do Conass em entrevistas.

O país ultrapassou a marca de 500 mil mortes pela doença. E, ao longo dos últimos dias, o Brasil também tem concorrido com a Índia em mortos pelo coronavírus, frequentemente dobrando os números do país asiático. É preciso considerar que a Índia tem uma população sete vezes maior que a brasileira.

Além disso, hoje é o primeiro dia de inverno no país. Com início do período mais frio no Sul e Sudeste, é esperado um aumento de casos de pacientes com problemas respiratórios. Todos os países sofreram o impacto do inverno na pandemia, conforme o contágio é facilitado pelos ambientes fechados.

“A gente já vai ter um incremento também de problemas respiratórios que devem aumentar o número de casos. De modo que eu quero acreditar que sim, a gente está subindo a montanha. Está começando a escalada da montanha da terceira onda”, disse Lula.

O Conass tem pontuado que é preciso acelerar a vacinação no país. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta segunda que toda a população adulta brasileira deve estar vacinada com a primeira dose até setembro.

Países como o Reino Unido e EUA conseguiram derrubar sua curva de óbitos conforme a vacinação avançou e impediu casos mais graves da doença entre os mais idosos. No Brasil, a vacinação de primeira dose, que é considerada incompleta, atingiu apenas 30% da população. A imunização considerada reforçada, com duas doses, chegou a menos de 12%. No entanto, a vacinação tem se acelerado na última semana, conforme há maior disponibilidade de vacinas no país.

Com informações de O Globo.

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