Campanha Fora Bolsonaro prepara próximos passos após o sucesso do J19

Entidades e partidos da oposição discutem se devem intensificar a mobilização, inclusive com ações que podem ir além das grandes passeatas

Entidades e movimentos que participam da Campanha Fora Bolsonaro – como a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo – esperam definir até quarta-feira (23) o modelo e datas de novas manifestações. Para os organizadores, o 19J – série de manifestações que mobilizou 750 mil pessoas em mais de 400 atos no sábado (19) – foi um sucesso, com mais adesões do que o 29M, em 29 de maio.

Agora, entidades e partidos da oposição discutem se devem intensificar a mobilização, inclusive com ações que podem ir além das grandes passeatas. Três fatores pesam nos próximos passos do grupo: o avanço das investigações da CPI da Covid no Senado, o recrudescimento da pandemia e a data de entrega de um novo pedido de impeachment – desta vez, assinado por diversos partidos e movimentos sociais.

Chamado de “superpedido” de impeachment por alguns signatários, o documento deve reunir as acusações de crime que constam nos mais de cem pedidos já protocolados na Câmara contra Bolsonaro. A Associação Nacional de Juristas pela Democracia (ABJD) – que se uniu a advogados de partidos da oposição no plano do impeachment unificado – sinalizou a lideranças que os estudos para o documento estão avançados e que o texto estará em condições de ser apresentado nas próximas semanas.

Organizadores da Campanha Fora Bolsonaro devem se reunir nesta segunda-feira (21) e na terça (22) para discutir a realização de novos atos. No sábado, algumas lideranças políticas defenderam aumentar ainda mais a pressão nas ruas. “É uma novidade: no calor das manifestações, se apresenta um pedido unificado (de impeachment), é um elemento que podemos discutir”, diz Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares. “Talvez o mais recomendado seja colar uma nova manifestação com a possível apresentação desse pedido.”

Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Guilherme Boulos (PSOL) está entre aqueles que defendem aumentar a pressão com mais atos de rua. “Que cresçam cada vez mais as mobilizações”, disse Boulos no sábado, logo após seu discurso na manifestação. “Quando alguém no meio de uma pandemia decide ir para a rua, é um gesto extremo e expressa a compreensão de que com esse governo não dá – o Bolsonaro não nos deixou outra alternativa. Espero que a gente consiga viabilizar o impeachment ainda neste ano.”

Há quem sugira ampliar os atos contra Bolsonaro para novos tipos de protesto, como greves e paralisações pontuais em rodovias. “Na próxima, não é o caso de fazer uma paralisação, uma greve, trancamento de rodovia, intercalando para não ser só atos de sábado na Paulista?”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). “O que estamos avaliando junto às demais organizações é: quais são os tipos de luta que vão ajudar a acumular força?” 

Coordenadores da campanha tentam, ainda, ampliar o espectro de organizações que participam dos protestos e rechaçam a interpretação de que as manifestações serviriam para reforçar a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. Desde o ato de 29 de maio, as reuniões de organização do grupo passaram a contar com representantes do Movimento Acredito, de renovação política e mais identificação com o centro e a centro-direita.

Segundo Bonfim, há também o desejo de que PDT e PSB participem mais ativamente da coordenação. Na manifestação do último sábado, um movimento da juventude do PT empunhava faixas que pediam “Volta Lula”, enquanto as lideranças evitaram mencionar o ex-presidente no carro de som.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, também prega a adesão de mais organizações aos protestos. “Ficou claro que a presença dos partidos não significou um impedimento para as pessoas virem”, avalia. “Eles estavam na primeira (manifestação) e agora vieram mais pessoas do que antes.”