Peru: Esquerda disputa 2º turno hoje em vantagem contra fujimorismo

País teve quatro presidentes nos últimos três anos. Agora, pesquisas apontam Pedro Castillo com 51,1% das intenções de voto, contra 48,9% de Keiko Fujimori

Cerca de 24 milhões de peruanos estão convocados para retornarem neste domingo (6) às urnas e participarem do segundo turno das eleições que decidirão o próximo presidente do país. A escolha é entre o esquerdista Pedro Castillo (Peru Livre), que aparece com vantagem, e a direitista Keiko Fujimori (Força Popular).

No primeiro turno, em abril deste ano, 18 candidatos concorriam à Casa de Pizarro. Após uma disputa no qual pesquisas apontavam empate técnico entre cinco candidatos, Castillo saiu vitorioso, com 18,92% dos votos. Professor do ensino básico, com 51 anos de idade, o nome do Peru Livre liderou a maior parte das pesquisas no segundo turno.

As primeiras davam 20 pontos de vantagem de Castillo sobre a filha do ex-ditador Alberto Fujimori. No entanto, o último levantamento antes do pleito apontou uma diminuição da diferença, mas com liderança do sindicalista: 51,1% dos votos válidos contra 48,9% de sua adversária.

O país teve quatro presidentes nos últimos três anos. Em 2018, Pedro Pablo Kuczynski foi destituído. Em novembro do ano passado, seu vice, Martín Vizcarra, também foi afastado do cargo. Após a saída de Vizcarra, Manuel Merino assumiu o poder, mas renunciou após uma semana. O quarto presidente, Francisco Sagasti, conduz um governo provisório e não se candidatou neste pleito.

O Órgão Nacional de Processos Eleitorais (Onpe) detalhou que os eleitores poderão votar neste domingo na mesma mesa e local designado no primeiro turno, das 7 às 19 horas. Assim como no Brasil, o voto no Peru é obrigatório. Em caso de não comparecimento, o eleitor está sujeito a pagar uma multa.

Devido à pandemia do novo coronavírus, as autoridades eleitorais escalonaram os horários para evitar aglomerações nos centros de votação. Idosos terão um período estabelecido para realizarem o voto. Assim como uma escala de horários, o Onpe pediu que os peruanos utilizem duas máscaras de proteção na hora da votação.

Segundo levantamento da Universidade Jonhs Hopkins, o Peru contabiliza, desde o início da pandemia, 1.965.693 casos da covid-19 e 185.380 mortes. Além de infecções, o mapa aponta que o governo peruano aplicou 4.207.543 doses de vacinas contra o vírus.

Desde o último dia 31 de maio, entraram em vigor as restrições determinadas na legislação eleitoral para o segundo turno, homologadas pelo Júri Nacional de Eleições (JNE). A partir da meia-noite (hora local), foi proibida a divulgação ou publicação de pesquisas de intenção de voto na mídia. Além disso, desde sexta-feira (4), não foram mais permitidas reuniões ou manifestações de natureza política, ao passo que no sábado (5) foram suspensos todos os tipos de propaganda política.

Os debates

Castillo teve reconhecimento nacional em 2017, quando liderou uma greve de profissionais da educação peruana. Quando jovem, Castillo fazia parte de rondas campesinas, organizações que combatiam crimes que ocorriam nas zonas rurais do Peru, o que, ainda hoje, representa em suas caminhadas ao usar chapéu característico aos integrantes destes grupos.

Em sua campanha, o candidato falou em participação popular e na convocação de uma Constituinte. Membro de um partido “marxista-leninista-mariateguista”, Castillo defende que a atual Constituição prioriza o interesse privado sobre o interesse público, o lucro sobre a vida e a dignidade. Para ele, a ideia é permitir que os peruanos decidam “democraticamente” se vão ou não vão querer uma nova Carta Magna.

Já Keiko – que chegou ao segundo turno após ter 13,4% dos votos – se apoia no legado do pai, defendendo a manutenção da estrutura do Estado. A atual Constituição peruana foi promulgada em 1993, durante o regime fujimorista. Porém, no único debate entre os presidenciáveis durante o segundo turno, o duelo girou em torno de outros temas, como a posição dos candidatos sobre a pandemia, bem como a gestão da saúde e da educação.

Em certo momento, Keiko acusou seu concorrente de não falar publicamente sobre as mulheres, o que foi revidado por Castillo ao declarar que ela deveria pedir desculpas às peruanas que sofreram esterilizações forçadas no governo Fujimori. A prática da imposição de esterilizar mulheres era uma das medidas do Programa Nacional de Planejamento Familiar. Mais de 300 mil mulheres e 25 mil homens em idade fértil e reprodutiva, sobretudo camponeses e indígenas, foram esterilizados sem consentimento.

A política de Alberto Fujimori foi defendida por Keiko, que, durante um evento, disse que as esterilizações não passavam de “planejamento familiar”. Por outro lado, Castillo repudia as esterilizações forçadas do governo fujimorista. Em 24 de abril, ele disse que, em eventual mandato seu, “não encontrarão um governo que queira arrancar o útero de mães e mulheres peruanas”.

Com informações do Opera Mundi