Eletrobras privatizada deixa país mais perto do apagão, diz engenheiro

Segundo Ikaro Chaves, da Aesel, país vive situação semelhante à de 2001, quando brasileiros passaram por um racionamento de energia.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Brasil corre o risco de um apagão devido à crise hídrica, com a situação agravada pela falta de investimentos no setor elétrico e a perspectiva de privatização da Eletrobras, que gera 33% de toda a energia consumida no país. O alerta é do engenheiro elétrico Ikaro Chaves, diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos da Eletrobras (Aesel).  

Segundo Ikaro, o país vive uma situação que tem muitas semelhanças com o fim dos anos 1990. Naquela época, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a incluir a Eletrobras no programa de privatizações. Alguns anos depois, em 2001, os brasileiros acabaram vivenciando o maior racionamento de energia registrado para um país em tempos de paz.

“Quando você quer privatizar uma empresa, não faz investimento. O governo suspendeu os investimentos, esperou que a iniciativa privada fizesse, mas não fez”, diz o diretor da Aesel, explicando que nunca houve proibição da participação de empresas privadas no setor elétrico brasileiro. “Sempre foi aberto, mas a iniciativa privada não mostrou em fazer grandes projetos estruturantes, como hidrelétricas e linhas de transmissão”, afirma.

Com a ausência de investimentos, destaca Ikaro, quando houve uma crise hídrica – o que deveria ser uma ocorrência normal – foi necessário o racionamento. “O governo FHC de fato tinha a ilusão de que a iniciativa privada seria capaz de fazer os investimentos no setor, como se fosse uma indústria qualquer. Mas, quando viram que não houve investimentos e a crise estava severa, não tinha como privatizar. Sabiam que a própria Eletrobras é que teria que fazer. Houve resistência da oposição, mas o próprio governo optou por não privatizar”.

Sem investimentos desde 2016

Segundo o diretor da Aesel, a Eletrobras novamente atravessa uma fase de carência de investimentos. De acordo com ele, os governos dos ex-presidentes Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff foram marcados por um novo ciclo de investimentos no setor elétrico, mas os aportes foram suspensos pelo governo Michel Temer, que voltou a encampar a ideia da privatização. O governo Bolsonaro também não investiu e deu continuidade à proposta.

Sob Bolsonaro e Paulo Guedes, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória (MP) 1031/2021, que viabiliza a privatização. A medida ainda passará por discussão e será votada no Senado. Ao mesmo tempo, o Brasil mais uma vez está sob a ameaça de uma crise hídrica.

“Mesmo com o país estagnado, a gente está vivendo uma crise hídrica severa. Hoje, o Brasil tem uma grande quantidade de usinas termelétricas que dão algum conforto para o nosso sistema elétrico. O problema é que são muito caras, ou seja, pesam no bolso do consumidor. Mas, mesmo com as termelétricas, não está descartado o racionamento. Se a economia crescer um pouco em 2021, há risco real de racionamento no que vem”, afirma o engenheiro elétrico.

Ikaro Chaves afirma que espera que o risco de apagão sirva de “alerta” para os senadores que agora discutirão a privatização. “Seria uma irresponsabilidade tremenda. Estamos contratando uma crise não daqui há dez anos, mas para este ano”, pondera.

Ele diz, ainda, que a privatização traz “uma certeza e uma possibilidade”. “A certeza é o tarifaço, uma vez que deve haver aumento na conta de luz. E o risco é o racionamento”.

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