Diante das mentiras, Nise Yamaguchi será reconvocada para depor na CPI

Mesmo confrontada com uma série de vídeos, nos quais mostraram seu empenho em defesa da cloroquina, imunidade de rebanho e contra o isolamento social, a oncologista tergiversou sobre suas posições

A médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

A médica Nise Yamaguchi, que chegou a ser cotada por Bolsonaro para ocupar o comando do Ministério da Saúde, será reconvocada na condição de testemunha para um novo depoimento na CPI da Covid. Nesta terça-feira (1º), ela falou como convidada, mas não respondeu objetivamente nenhuma pergunta do relator Renan Calheiros (MDB-AL). Mesmo confrontada com uma série de vídeos, nos quais mostraram seu empenho em defesa da cloroquina, imunidade de rebanho e contra o isolamento social, a oncologista tergiversou sobre suas posições.

“Tivemos a primeira acareação da CPI: Doutora Nise Yamaguchi com seus próprios vídeos. Ficou comprovado que a doutora presencial é uma e a dos vídeos a desmente categoricamente. Lamento dizer que ela não foi verdadeira. Por mais suave que tenha sido, suas palavras feriram os fatos”, disse o relator.

Nise desconheceu também ter havido um “gabinete paralelo” de orientação a Bolsonaro e se definiu como “colaboradora eventual”. Apesar dos diversos encontros no Ministério da Saúde e com o presidente, ela afirmou que nunca esteve sozinha com Bolsonaro e pouco se falavam. No entanto, em julho de 2020, ao ser sondada para ocupar a pasta da Saúde, ela aparece num vídeo dando a seguinte declaração: “Mandei mensagem pra ele, ele não precisava me sondar, ele me conhece e a gente se fala o tempo todo.”

Sobre os vídeos, a médica afirmou que a imunidade de rebanho por contaminação era uma discussão pertinente no ano passado. No caso da vacina, ao ser questionada se ainda desconfiava da eficácia, ela respondeu: “Eu discuti a formulação das vacinas. E, como nós estamos vendo, algumas vacinas talvez precisem de três ou quatro doses realmente”. Nise também disse que, por ser prevenção e não tratamento, vacina não é a única saída para a pandemia.

A afirmação irritou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM): ‘Não acreditem nela. A vacina salva!’. “A doutora Nise com essa voz calma, ela é convincente. Porque quem grita não consegue convencer ninguém. Quem fala baixo, com a voz bastante calma, parece que passa mais credibilidade. Na realidade, quem está nos vendo no momento, eu peço que desconsidere essas questões que ela disse aqui em relação à vacina”, disse Omar.

Com a informação de que a médica mentiu sobre encontros com Bolsonaro, senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) pediu que sessão fosse encerrada e ela reconvocada para depor como investigada. Os parlamentares tinham informações de que a médica, considerada “conselheira paralela” de Bolsonaro, teve reuniões secretas com a cúpula do Ministério da Saúde.

Bula da hidroxicloroquina

A médica também negou que propôs numa reunião no dia 6 de abril do ano passado, no Palácio do Planalto, a mudança da bula da hidroxicloroquina para indicar o medicamento no tratamento da Covid-19, conforme afirmou o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. O fato também foi confirmado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. A resposta não convenceu o presidente da CPI que sugeriu uma acareação com presidente da Anvisa, Barra Torres. À CPI, ele disse ter se exaltado com a proposta de Nise.

A médica afiromu que o presidente da Anvisa e o ex-ministro Mandetta fizeram uma interpretação equivocada de sua atuação em algumas reuniões, pois garante nunca ter defendido alterar bula da cloroquina por decreto. Ela afirmou que participou de reunião para tratar sobre medicamentos e não de mudança de bula.

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