Antibolsonarismo estará no centro da eleição presidencial de 2022

Queda de popularidade de Bolsonaro e a recuperação dos direitos eleitorais de Lula são fatores que devem ser decisivos no ano que vem

O antipetismo – sentimento decisivo nas últimas disputas eleitorais – deve dar lugar ao antibolsonarismo nas eleições presidenciais de 2022. Na opinião de cientistas políticos consultados pela revista CartaCapital, a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e a recuperação dos direitos eleitorais do ex-presidente Lula são fatores que devem ser decisivos no ano que vem.

“O antibolsonarismo é ainda maior que o antipetismo”, diz Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Todos aqueles que se colocam em uma condição de democratas e se afastam de qualquer discurso que busque solapar a democracia formaram um percentual enorme que não vota de jeito nenhum no presidente. A questão é que, se o bolsonarismo tem, em média, cerca de 30% de uma base resiliente, podemos dizer que os outros 70% não estão com ele.”

Segundo o professor, “o sentimento de desgaste do Bolsonaro e o alinhamento do antibolsonarismo são mais fortes porque hoje Bolsonaro está no poder. Quem está no poder torna-se vidraça. O presidente deixa de ser o outsider e vai ter que se acertar com tudo que fez de certo e errado em sua gestão”.

Mas, para Prando, a rejeição a Lula e ao petismo ainda terá peso, embora menor, na eleição 2022: “É improvável que o sentimento desapareça. Os adversários vão tentar jogar na conta do Lula o ônus dos anos Dilma”. Ainda assim, “vale ressaltar que o antipetismo não acabou”, lembra Prando.

Com a disputa, até o momento, polarizada, a tendência é que Bolsonaro busque justamente reacender o sentimento antipetista. Um sentimento que vigora desde 2013, com o início das manifestações de junho daquele ano – e que foi aprofundado com a Operação Lava Jato, o golpe contra Dilma e a prisão de Lula.

Na semana passada, após pesquisa apontar que a rejeição ao seu governo foi a 59%, Bolsonaro publicou nas redes sociais um vídeo com o registro de seu desembarque em São Paulo após levar uma facada em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral de 2018. “Essas imagens já fazem parte da história. Desembarque em São Paulo, vindo de Juiz de Fora (07/setembro/2018)”, escreveu o presidente.

“Entre os eleitores do Bolsonaro, (o antipetismo) ainda é um assunto fundamental. (Nas eleições, os bolsonaristas) não vão defender o governo, vão defender a necessidade de derrotar o Lula e o PT”, avalia o cientista político pela Universidade de Brasília Gabriel Elias. “O Bolsonaro já disse: ‘Se não votarem em mim, tem aí o Lula’. Isso será o discurso principal dele.”

No sábado 29, em várias cidades do País, ocorreram manifestações contra Bolsonaro, a favor da vacinação e do auxílio emergencial. A pandemia do novo coronavírus, que no Brasil já vitimou mais de 460 mil pessoas, é o fator de maior desgaste do presidente em seu mandato. Conforme Elias, os próximos meses serão cruciais para o presidente manter as chances de reeleição.

“O Bolsonaro não chegou no seu pior momento ainda. Nos próximos meses, ele vai enfrentar um teste de fogo: o auxílio deve acabar e a terceira onda deve chegar com mais força”, diz Elias. “Tudo isso pode coincidir com a entrega dos resultados da CPI. Se o Bolsonaro passar por esse teste de fogo e se sustentar, tem a chance de ele se recuperar e o antibolsonarismo se tornar algo menor.”

Para Elias, se houver impeachment, o quadro muda. “Caso isso aconteça, o que vamos ver é uma profusão de candidaturas e o segundo turno vai ficar muito incerto, sem saber quem vai enfrentar o Lula”, diz. “Se o Bolsonaro se enfraquecer a ponto de não chegar ao segundo turno ou sequer chegar às eleições, o resgate do antipetismo e antilulismo volta com muita força.”

Com informações da CartaCapital