Mestre, gentil e imortal: artistas e políticos enaltecem Nelson Sargento

Fãs ilustres lamentam morte de sambista e agradecem contribuição cultural histórica

Foto: Reprodução Twitter /@Glauber_Braga

A morte de Nelson Sargento, 96 anos, baluarte do samba e da Estação Primeira de Mangueira, nesta quinta-feira (27) comoveu a sociedade brasileira e motivou homenagens ao sambista nas redes sociais. Internado no dia 21 de maio no Inca (Instituto Nacional de Câncer), onde tratava um câncer de próstata, o artista foi diagnosticado com Covid-19.

Nelson Sargento foi autor de clássicos como Agoniza, Mas Não Morre, Acabou Meu Sossego, diversos sambas-enredos da escola Mangueira além da participação em filmes. Os fãs do sambista destacam nas redes sociais atributos de Nelson Sargento que o imortalizam na história do samba e na cultura brasileira.

Músicos

Referência musical, Nelson Sargento inspirou artistas de diversos gêneros musicais. Marcelo D2, que já dividiu o palco com o sambista, chamou Sargento de “mestre” e “arquiteto da música brasileira”. O músico Diogo Nogueira, que representa outra geração do samba, reforçou o título de mestre de Nelson Sargento e lamentou sua morte.

Gilberto Gil agradeceu as contribuições de Nelson Sargento e o destacou como “negro, forte, destemido”, um trecho de música do sambista. Elza Soares o chamou de “lenda do samba” e usou a expressão “doce” para destacar o lado pessoal do artista.

A cantora Daniela Mercory, em seu adeus ao sambista, destacou as letras e ensinamentos das músicas de Sargento. Zélia Duncan se referiu ao sambista como “doce mestre”, assim como Elza Soares.

Alcione, que também pertence à Mangueira, lembrou em vídeo postado no Instagram a gentileza de Nelson Sargento, quem classificou como um “lord” e “orgulho do samba”. Leci Brandão, sambista e deputada estadual pelo PCdoB-SP, lamentou a morte do sambista e atribuiu a Nelson sua entrada na ala de compositores da Mangueira.

Políticos

Apesar de não se envolver diretamente na política no país, a contribuição de Nelson Sargento ao samba cultivado nos morros e nos asfaltos da cidade do Rio de Janeiro (RJ) a partir dos anos 1910 o credencia como uma voz legítima na história brasileira. Nelson Sargento cantou sobre o operário, o racismo e tantas outras contradições do Brasil.

Políticos lamentaram a morte do sambista e enalteceram o legado do artista ao país.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PE) entristeceu-se com a morte de Nelson Sargento e relatou que “foi um prazer convive com ele”.

Ciro Gomes (PDT-CE), pré-candidato à presidência da República em 2022, “acompanha o choro da cuíca pela morte do grande Nelson Sargento”.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) se pronunciou durante a Comissão de Inquérito Parlamentar para comunicar a morte do músico que é “patrimônio do samba nacional”.

O prefeito do Rio de Janeiro, cidade de Nelson Sargento, Eduardo Paes (PSD-RJ), lamentou que a partida do músico tenha sido sem o devido carnaval que Nelson Sargento apreciava. A prefeitura do Rio também postou uma homenagem.

O governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, mandou sentimentos à família e afirmou em nota de pesar que Sargento era uma figura histórica na cultura. “O samba e o Rio de Janeiro perderam hoje um de seus ícones”, diz em trecho da nota.

Jandira Feghali (PCdoB-RJ), deputada federal, lamenta a morte do “poeta e sambista da mais alta patente”. Orlando Silva (PCdoB-SP) afirma que Nelson Sargento deixa “um vazio enorme na cultura popular brasileira”.

Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) também classificou Nelson Sargento como “um dos maiores sambistas”.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), vice-líder do partido, lamentou a morte do sambista e relembrou sua contribuição para além do samba, quando, por exemplo, ele foi embaixador para proteção das crianças no carnaval durante o governo Dilma. O Partido dos Trabalhadores também postou uma nota de pesar pela morte do artista.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) se despediu de Nelson Sargento também com um trecho de samba. “Sargento apenas no apelido, guerreiro negro dos Palmares, Nelson é o Mestre Sala dos Mares singrando as águas da Baía”, escreveu.

Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo e candidata à prefeitura da capital paulista nas últimas eleições pelo PSOL, publicou um trecho de música de Nelson Sargento como homenagem.

Sâmia Bomfim, deputada federal pelo PSOL-SP, expressou tristeza com a notícia e definiu como “pesadelo sem fim” as mortes por Covid-19.

A reação mais criticada entre os políticos foi do senador Eduardo Girão (CE), que questionou na CPI da Covid a eficácia da vacina após a morte de Nelson Sargento. O músico havia tomada a primeira dose da CoronaVac. No entanto, estava em tratamento de um câncer o que pode ter fragilizado ainda mais o seu quadro clínico. Outros parlamentares reagiram ao uso político da morte do artista.

Celebridades

A atriz e apresentadora Regina Casé tinha uma relação de amizade com Nelson Sargento e postou no Instagram sua homenagem ao “mestre”. Sargento foi ao programa Esquenta!, na Rede Globo, em mais de uma ocasião, além de se encontrar com Regina em rodas de samba. “Ainda bem que a gente cantou, sambou, aprendeu ,beijou e abraçou, amou com toda força ,tudo que a gente pode…”, publicou a atriz.

O ator Babu Santana, ativista da cultura black, ressaltou a importância de Nelson Sargento e lamentou a perda do artista para uma doença que já possui vacina.

Roger Cipó, fotógrafo que registra o cotidiano e as celebrações das comunidades negras, também se indignou com a morte do sambista pela Covid-19.

A atriz Camila Pitanga postou “mais uma voz que se cala nesse pesadelo que estamos vivendo” sobre a morte do sambista. Patricia Pillar, também atriz, considerou uma “sorte” a convivência com o cantor e desejou carinho aos familiares e amigos.

O artista Hélio de La Peña agradeceu o legado e afirmou que “o mundo do samba está triste” com a morte de Nelson Sargento.

Clubes de futebol

O samba é um dos ritmos que embalam os jogadores nas concentrações antes dos jogos, assim como o samba reverencia o futebol. Nelson Sargento também acompanhava o esporte e era saudoso dos tempos de Garrincha e Pelé, como disse à revista Lance! em 2014. Na ocasião, declarou amor ao Vasco da Gama. “Sou Vasco desde 1934”.

O clube Vasco da Gama, nesta quinta-feira, enalteceu Nelson Sargento e sua importância na história do samba e desejou força aos amigos e familiares. Na música Casaca, Casaca, que acompanha a postagem, Sargento canta: “Vasco da Gama, baniu o preconceito, em nome do direito, dando razão à razão.”

O Flamengo, Fluminense e o Corinthians também prestaram homenagem ao sambista.