Desemprego e subemprego batem recorde; 14,8 milhões estão sem trabalho

Na comparação com o 4º trimestre de 2020, houve uma alta de 6,3% (ou de mais 880 mil pessoas) na fila por emprego

O Brasil bateu, no primeiro trimestre de 2021, seu próprio recorde de desemprego e subemprego. Em meio ao avanço da segunda onda de Covid-19 no País e à falta de apoio à altura do governo Jair Bolsonaro, 14,8, milhões de trabalhadores ficaram sem ocupação – um índice de 14,7%. “É a maior taxa e o maior contingente de desocupados de todos os trimestres da série histórica, iniciada em 2012”, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que divulgou os dados nesta quinta-feira (27).

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). Na comparação com o quarto trimestre de 2020, o resultado representa uma alta de 6,3% (ou de mais 880 mil pessoas) na fila por emprego. Houve alta também em relação ao levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em fevereiro. Naquela ocasião, a taxa de desemprego estava em 14,4%, atingindo 14,4 milhões de brasileiros – número recorde até então.

“O primeiro trimestre de cada ano, como a gente já viu em outros anos, é um período de aumento da desocupação”, comenta Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE. “Mas essa sazonalidade pode estar sendo aumentada pelos efeitos de 2020 sobre o mercado de trabalho”, acrescenta. Em um ano, quase 2 milhões de pessoas – ou, mais precisamente, 1,956 milhão – ficaram desempregadas. A taxa é de 17,9% para as mulheres e de 12,2% entre os homens.

Com relação ao emprego por segmento, apenas a Agricultura registrou alta (4,0%, ou mais 329 mil pessoas) do primeiro trimestre de 2020 para o primeiro de 2021. Nesse período de um ano, sete grupamentos tiveram quedas expressivas: Indústria Geral (-7,7%, ou menos 914 mil), Construção (-5,7%, ou menos 361 mil), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-9,4%, ou menos 1,6 milhão), Transporte, armazenagem e correio (-11,1%, ou menos 542 mil), Alojamento e alimentação (-26,1%, ou menos 1,4 milhão), Outros serviços (-18,6%, ou menos 917 mil) e Serviços domésticos (-17,3%, ou menos 1,04 milhão).

Como o IBGE só considera como desempregado o trabalhador que efetivamente procurou emprego nos últimos 30 dias anteriores à realização da pesquisa, o número de pessoas sem ocupação nenhuma também cresceu. A população desalentada (que desistiu de procurar vagas no mercado de trabalho) também atingiu patamar recorde, reunindo 6 milhões de pessoas (5,6%). Ou seja, a taxa de desemprego só não é ainda maior porque muitos brasileiros desistiram de procurar uma ocupação. O avanço ante o mesmo período de 2020 foi de 25,1%.

Subemprego cresce

O subemprego é igualmente o maior da série histórica. Esse contingente chegou a 33,2 milhões, indo a 29,7%, contra 28,7% no trimestre anterior. Há um ano, estava em 24,4%. Para o IBGE, o grupo dos trabalhadores subutilizados reúne os desempregados, os desalentados, aqueles que estão subocupados (trabalham menos de 40 horas semanais) e os que poderiam estar ocupados, mas não trabalham por motivos diversos.

A população ocupada (85,7 milhões de pessoas) ficou estável em relação ao trimestre móvel anterior, mas caiu 7,1%, (menos 6,6 milhões de pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2020. Já o nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) chegou a 48,4%, caindo meio ponto percentual frente ao trimestre móvel de outubro a dezembro (48,9%) e recuando 5,1 pontos em relação a igual trimestre de 2020 (53,5%).

Os números contradizem o discurso falsamente otimista do governo Jair Bolsonaro. Na véspera, o Ministério a Economia divulgou que a economia brasileira gerou 120.935 empregos com carteira assinada em abril, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Além de ter sido o menor saldo positivo mensal registrado em 2021, o número só se refere a trabalhadores formais, desconsiderando a taxa de informalidade no Brasil é elevada (39,6% da população ocupada)

Na opinião de especialistas, o Brasil só tem condições de registrar uma melhora mais consistente do mercado de trabalho no segundo semestre – e, ainda assim, se houver avanço substancial da vacinação contra a Covid-19. Até o momento, apenas 20% da população brasileira foi imunizada. A falta de vacinas compromete especialmente o setor de serviços – o que mais emprega no País e o mais afetado pelas medidas de restrição para conter o avanço do novo coronavírus.

Com informações do IBGE e do G1