Depoimento de Dimas Covas é avassalador contra Bolsonaro, dizem deputados

O diretor-presidente do Instituto Butantan disse que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinação, mas não havia contrato com o Ministério da Saúde para o fornecimento do imunizante

Diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, depõe na CPI (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O depoimento do diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, nesta quinta-feira (27), à CPI da Covid, reforça ainda mais uma das linhas de investigação do colegiado sobre a posição do governo Bolsonaro contra a vacinação no país. Ele disse que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinação com doses da CoronaVac contra a Covid-19, mas não havia contrato com o Ministério da Saúde para o fornecimento do imunizante.

“Tínhamos 5,5 milhões de doses da CoronaVac prontas e 4 milhões em processamento em dezembro. O Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinação contra a Covid-19 não fossem os percalços enfrentados”, disse o diretor-presidente do Butantan. O cronograma de oferta apresentado pelo diretor-presidente era de 60 milhões de doses com entrega prevista em dezembro e 100 milhões de doses até maio.

Em outubro do ano passado, quando o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou um acordo para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, Bolsonaro chamou o imunizante de “vacina chinesa de João Doria” e afirmou que não seria comprado. Desautorizando Pazuello, ele disse na ocasião: “Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) considera o depoimento Dimas Covas destruidor para Bolsonaro. “Fica comprovado: O Ministério da Saúde brecou a compra da vacina por ordem de Bolsonaro. Era para termos 60 milhões de doses de vacina em dezembro. O atraso matou milhares de brasileiros”, disse ele.

“Quantas vidas salvaríamos? Dimas Covas revela na CPI a oferta de 60 milhões de doses da vacina do Butantan ao Ministério da Saúde em julho de 2020. As negociações e tratativas técnicas foram intensas e avançadas, mas Bolsonaro não quis adquirir vacinas por questões políticas”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, diz que Dimas Covas revela que foram ignoradas 60 milhões de vacinas em 2020. “Primeiras doses ficaram prontas em novembro. Decisão de Bolsonaro de não ter vacina foi deliberada, é fato e configura crime contra a saúde pública”, criticou.

“Vejam o absurdo! Quando o mundo começou a vacinar, em 8 de dezembro, foram distribuídas cerca de 4 milhões de doses. Dimas Covas acaba de revelar que o Butatan tinha à disposição, na mesma data, 5 milhões de doses, mas elas não foram contratadas por Jair Bolsonaro. Sabotagem!”, reagiu o líder da minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), avaliou como contundente o depoimento de Dimas Covas. “Mais uma vez, o descaso do governo Bolsonaro com as vacinas fica evidente. É gravíssimo!”, reagiu.

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