Pandemia: Brasil deve viver 3ª onda no inverno, diz Nicolelis

Para neurocientista, “Brasil e Índia são grandes palcos para novas variantes”

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, projeta uma nova onda de Covid-19 no Brasil e na Índia. Segundo Nicolelis, o baixo percentual de imunização nas populações faz desses países, cescem as chances de surgimento de mais variantes do novo coronavírus – o que impede previsões sobre o fim da pandemia.

“A verdade é que, a esta altura do campeonato, ainda não temos muitas certezas”, diz o cientista em entrevista ao Valor Econômico, publicada nesta quarta-feira (26). A Índia, a seu ver, vive um momento “assustador”, com vacinação ainda mais lenta do que no Brasil, além de um colapso hospitalar e funerário sem precedentes; Há quase 300 mil casos novos de Covid-19 por dia entre indiados.

Para Nicolelis, a alta transmissibilidade é o mais preocupante em relação à variante indiana, que já foi registrada em 50 países. “No Nepal e no Reino Unido, o vírus se multiplicou muito rápido nas duas últimas semanas, indicando que parece ser mais transmissível”, diz ele. “Brasil e Índia são grandes palcos para novas variantes.”

No Brasil, os primeiros casos de contágio com a variante indiana foram confirmados no Maranhão na semana passada, mas ainda não há evidências de que esteja havendo uma transmissão comunitária no país. Os demais casos em investigação – no Distrito Federal, Ceará, Rio de Janeiro e Pará – são todos de pessoas que vieram de fora do Brasil, com passagem pela Índia, por via aérea ou marítima.

Mesmo antes da confirmação da cepa indiana no país, estados como Paraíba e Mato Grosso prenunciavam o início de uma terceira onda de contágio, aponta o cientista. “Encavalamos uma onda na outra. Tivemos um platô longo na primeira e, antes que houvesse uma completa redução, veio a explosão de novos casos em fevereiro e março, algo que já era previsto.”

Agora, o Brasil poderá emendar uma terceira onda partindo de um patamar mais alto de casos e óbitos durante o período de inverno, quando tradicionalmente já aumentam os casos de síndrome respiratória aguda. Nicolelis criticou a falta de uma coordenação nacional com poder para passar uma mensagem consenso sobre a adoção de medidas de isolamento por estados e municípios. “Cada gestor está atirando para um lado.”

Nicolelis destaca a gravidade da pandemia em Pernambuco e Santa Catarina, estados com nível de ocupação de leitos acima de 95%. Nesta segunda-feira (24), o governo pernambucano aumentou a rigidez das restrições ao funcionamento do comércio nos fins de semana na região metropolitana do Recife e fechou as praias na capital.

Para Nicolelis, o governo Jair Bolsonaro também agravou a crise com sua “completa incompetência” na compra de vacinas. Ele afirma que o País deveria estar vacinando em torno de 2 milhões de pessoas ao dia, o triplo do que faz hoje. O total de brasileiros vacinados com duas doses chegou nesta terça-feira (25) a 21.214.582, segundo o consórcio de imprensa. O número representa pouco mais de 10% da população do País.

Os Estados Unidos conseguiram atingir 3 milhões de doses diárias já em março, apenas dois meses após a posse de Joe Biden na Casa Branca. Com 40% da sua população imunizada, os norte-americanos viram despencar de 300 mil para 30 mil o registro de novos casos diários.

Conforme Nicolelis, o novo coronavírus ainda vai circular por “muito tempo”. No meio científico, discute-se a possibilidade de todo ano a população precisar ser vacinada, assim como ocorre com o vírus da gripe. No curto prazo, diz ele, as ondas de contágio devem vir acompanhadas por uma pressão extra no sistema de saúde dos países.

Com informações do Valor Econômico