A nova afronta de Bolsonaro é mais um crime, por Jandira Feghali

Em meio a uma pandemia, o presidente afronta todas as medidas de prevenção e amplia a transmissibilidade do vírus.

Ilustração: Zé Dassilva

Depois de ser corretamente autuado no Maranhão pelo governo do estado, Bolsonaro insiste em manter seu efeito demonstração. Arregimenta apoiadores no País para concentrar num único local, na tentativa de passar a imagem de grandes manifestações, como fez em Brasília com a mobilização transportada nos caminhões.

Em meio a uma pandemia, o presidente faz questão de agravar uma situação há muito fora de controle. Irresponsavelmente, afronta todas as medidas de prevenção e amplia a transmissibilidade do vírus. Aglomera as pessoas, que o seguem cegamente como se fossem para o matadouro. A grande maioria sem máscara, como ele próprio e sua equipe, apertam sua mão, e algumas ainda o abraçam.

No carro de som, pasmem, o ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, o mordomo leal, comparece, como ordenado pelo patrão, sem máscara para mostrar sua risada e seu escárnio. Um deboche para com a Comissão Parlamentar de Inquérito onde, protegido por um habeas corpus, mentiu deslavadamente para proteger seu amado presidente. Mas, não foi digno do exército brasileiro, nem do SUS, que tentou e não conseguiu comandar, nem do povo brasileiro. Não fosse o suficiente, Bolsonaro ainda afrontou a Constituição quando referiu-se ao exército como “seu” para ameaçar governadores, prefeitos e as instituições e provocou sua turma a gritar “eu autorizo”.

Reitero as palavras do governador Flávio Dino quando diz que este presidente é um desocupado. Milhares de pessoas perdendo suas vidas no país, famílias enlutadas e ele passeando de moto e agredindo quem trabalha. Deveria estar honrando a função que ocupa, coordenando uma força-tarefa, repondo os recursos do SUS, comprando os testes rápidos, acelerando a compra das vacinas, visitando os hospitais, reunindo governadores, prestando apoio e solidariedade a estes gestores e aos municípios, descontingenciando os recursos da ciência e das universidades que estão fechando as portas por asfixia financeira, dando apoio aos profissionais de saúde, tomando medidas para aumentar o auxilio emergencial, auxiliar as micro e pequenas empresas, sustar o teto de gastos para investir e gerar empregos.

Mas, este não seria o governo de Guedes e Bolsonaro. Neste governo só há olhos para os grandes fundos de investimento, o grande capital financeiro. Nesta gestão aumentam os bilionários brasileiros. Segundo a revista Forbes, dobrou o número de pessoas que tiveram aumentada suas fortunas em pelo menos 1 bilhão de dólares. Por outro lado, o Ministério da Cidadania nos traz a triste realidade do aumento assustador da pobreza e da extrema pobreza. Segundo dados divulgados em abril pelo CadÚnico (Cadastro Único do governo federal), o Brasil possui 17.140.739 famílias cadastradas com renda mensal menor que 178,00 reais. Um levantamento da FGV mostra que, entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, cerca de 17,7 milhões de pessoas voltaram à pobreza.

A realidade epidemiológica e social do Brasil é gravíssima e não temos comando nem coordenação política para enfrentá-la. Ao contrário, temos um governo criminoso que a aprofunda. A apuração detalhada desta estratégia deve ser o caminho a ser trilhado pela CPI. Em consulta a vários conceitos da epidemiologia, verifico que nunca saímos da primeira onda da pandemia no Brasil. Tivemos oscilações de curva, mas nunca saímos de uma situação grave e de imenso risco.

O número de casos e de óbitos no Brasil, pelos diferentes estados e diferentes estágios, é consequência direta do atraso na transferência de recursos do governo federal e na habilitação de leitos de UTI, a distribuição descoordenada e insuficiente de testes PCR, a inexistência de compra de testes antígeno rápidos, o atraso de compra das vacinas que nos leva a ocupar o 56º lugar em percentual de população vacinada. Trocas sucessivas de ministros da saúde, mudanças de equipe, ingerências indevidas sem embasamento técnico, com total descoordenação nacional, omissão e negligência, propagandas falsas, protocolos anticientíficos de medicamentos, entre outros exemplos que comprovam incompetência, mas centralmente sustentam objetivos, metas, ou seja, uma estratégia. Uma estratégia mortal.

Diferente do propalado pela base governista na CPI da Pandemia, a investigação não é política. É um freio necessário. É necessário que a sociedade busque respostas, que paute seus direitos, que não aceite a continuidade de tantos crimes. O Brasil é muito maior, potente e criativo. A vida é um direito fundamental e ninguém, muito menos eleito, pode dispor dela. A sociedade pode e deve exigir outro comando já para o país. Não aceitamos mais afrontas, nem mais crimes.

Fonte: CartaCapital

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