Pesquisa revela altíssima segregação racial nas escolas particulares

Pesquisa revela segregação em escolas particulares e necessidade de políticas afirmativas para garantir diversidade no ensino dessas instituições.

Presença negra nas escolas particulares do país é de menos de 10% em média, embora essa população seja mais da metade o país.

A maioria das escolas de Ensino Médio mais bem colocadas no ENEM de 2019, a maioria privadas, possui menos de 10% de autodeclarados pretos e pardos e mais de 30% de não respondentes. “Embora grande parte das escolas não compute a raça e cor de todos seus alunos, os dados daqueles que responderam à questão assustam pela altíssima segregação racial desses espaços”, informa o boletim.

Os dados sugerem que “a segregação racial dessas escolas privadas é comparável àquela existente nos Estados Unidos antes dos anos 1960, quando ainda vigiam leis de segregação racial na educação”, conclui o Boletim GEMAA 9, que apurou a desigualdade racial nas escolas privadas de alto desempenho.

O boletim também ressalta que as ações afirmativas nos EUA se aplicaram primeiramente às empresas privadas, “não havendo, portanto, nenhum problema em fazer o mesmo no Brasil”. “Não pode ser natural que a elite brasileira se forme desde a infância em espaços onde não há negros como pares, mas apenas como subalternos”, analisa Luiz Augusto Campos, relator do boletim.

Menos de um em cada dez alunos (9,75%) se autodeclara preto ou pardo nas 20 escolas com as maiores notas no Enem 2019 no país (apenas uma é pública). Só três colégios do ranking, todos particulares, têm ao menos 20% dos alunos que se declaram negros.

A alta taxa de não resposta à questão de raça e cor impede que façamos grandes inferências sobre o tema. De todo modo, ela por si só mostra o descaso com que tais instituições de ensino vêm tratando a temática racial, já que se recusam a fornecer dados consistentes sobre seus alunos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros são maioria, 56%, da população brasileira. As escolas ranqueadas são de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará, Piauí e Paraná.

Escolas segregadas

Das vinte escolas do recorte, uma praticamente não computou a variável raça/cor do Censo Escolar, o Instituto Dom Barreto, do Piauí. Outros três institutos tiveram uma alta taxa de não resposta: o Colégio Pirâmide de São Paulo (85%), o Colégio Farias Brito de Aplicação (65%) e o Colégio Ari de Sã Cavalcante (58%), ambos no Ceará. O Colégio Catamarã Referência, de São Paulo, registrou 0% de pretos e pardos e 81% de brancos. Dos restantes, apenas três instituições tiveram 20% ou mais de alunos pretos e pardos registrados.

Esse nível de segregação se repete nas duas principais capitais brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre as dez escolas privadas de mais alto desempenho da capital fluminense apenas uma apresenta mais de 20% de pretos e pardos: o Colégio Técnico Nossa Senhora das Graças, com 30%. Vale notar que na lista figuram escolas que recentemente aderiram a projetos e políticas antirracistas. Os dados sugerem que os efeitos dessas práticas ainda são inexistentes na composição do corpo discente.

Realidade similar se aplica à capital paulista, onde nenhum dos dez colégios com melhor desempenho no ENEM 2019 registrou mais de 20% de alunos pretos ou pardos. A maioria dessas instituições oscilou entre 1% e 7%, tendo o Colégio Orlando Garcia da Silveira registrado mais de 91% dos alunos brancos

O Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA) é um núcleo de pesquisa com sede no IESP-UERJ que avalia a ação afirmativa. Para este boletim, tabulou, com base no Censo Escolar de 2020, a composição racial das escolas de Ensino Médio mais bem colocadas no ENEM de 2019.

Realidade similar se aplica à capital paulista, onde nenhum dos dez colégios com melhor desempenho no ENEM 2019 registrou mais de 20% de alunos pretos ou pardos. A maioria dessas instituições oscilou entre 1% e 7%, tendo o Colégio Orlando Garcia da Silveira registrado mais de 91% dos alunos brancos

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