Yanomamis são atacados novamente por garimpeiros com gás lacrimogêneo

Há uma semana garimpeiros ilegalmente atuantes em Terras Indígenas atacam comunidade Yanomami desprotegida. Último episódio ocorreu no domingo (16) à noite

Comunidade Palimiú está sem atendimentos médicos devido aos ataques de garimpeiros; posto de saúde é casa verde no fundo da imagem | Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica

A HAY (Hutukara Associação Yanomami) denunciou na manhã desta segunda-feira (17) um novo ataque de garimpeiros contra uma aldeia em Palimiú, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Por volta das 21h30 (horário local), um dos indígenas da comunidade ligou para o líder Dário Yanomami comunicando que os garimpeiros chegaram em 15 lanchas atirando e jogando bombas de gás na comunidade. Desde o dia 10 de maio, a comunidade vem sendo alvo de uma série de ataques diários de garimpeiros na TI Yanomami.

Como resultado do primeiro ataque, segundo os indígenas, duas crianças yanomâmis morreram afogadas durante a correria e o pânico que se instalaram na aldeia em meio aos tiros. Outras cinco pessoas saíram feridas, das quais um indígena e quatro garimpeiros, de acordo com os ianomâmis. Um dia depois, uma equipe da Polícia Federal que foi ao local averiguar o conflito também trocou tiros com garimpeiros.

Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Yanomami disse que na hora do ataque de domingo estava ao telefone com um indígena de Palimiu e pode ouvir a explosão das bombas e os tiros. O bombardeio levou ainda mais terror à comunidade. Dário ouviu que os Yanomami estavam muito aflitos e gritavam de preocupação ao telefone.

“Muitas crianças, adultos e jovens estão com fraqueza. Ontem (domingo) os garimpeiros jogaram bomba de gás. Eles estão muito tristes. A fumaça de gás está se espalhando. As crianças e as mulheres estão muito fracas. Os garimpeiros jogaram bomba de gás para enfraquecer a luta deles”, disse Dário Yanomami, em áudio.

“Ao fundo, era possível escutar o som dos tiros. A situação era grave. Reiteramos o pedido aos órgãos que atuem com urgência dentro de seu dever legal para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiu, antes que conflitos de mais grave natureza ocorram”, diz a nota.

A HAY disse ter informado o conflito à Funai (Fundação Nacional do Índio), à Polícia Federal, à Brigada de Infantaria de Selva do Exército e ao Ministério Público Federal. Pediu a instalação de “um posto avançado emergencial na comunidade Palimiú, com o objetivo de manter a segurança no local e no rio Uraricoera” e apoio logístico do Exército imediato “para garantir a manutenção da segurança no local”. 

Há sete dias a aldeia está sem profissionais de saúde para atendê-los. O Distrito Especial de Saúde Indígena (Dsei) Yanomami e Ye´kuana retirou os funcionários da aldeia desde os ataques do dia 10 de maio. Nesta segunda-feira (17), a Hutukara emitiu nota solicitando proteção imediata, já que novos ataques são esperados.

Lideranças pedem ação do governo

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye´kuana (Condisi-Y), Junior Hekurari, divulgou vídeo denunciando a omissão de governos federal e estadual. “Até agora, a PF não mandou força policial. A comunidade corre risco muito grande. O governo federal precisa fazer intervenção imediata. O povo Yanomami está com muito medo; não estão conseguindo dormir”, disse Junior.

A liderança indígena Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), também condenou a omissão das autoridades legais.

Dario Kopenawa Yanomami tem buscado apoio para garantir o direito à terra e segurança ao povo Yanomami. No entanto, a violência é só um dos lados do garimpo ilegal, que cresceu em 2020 e tem a complacência do presidente da República Jair Bolsonaro, que chegou à considerar legalizar a atividade em TI.

Com informações de Uol e Amazônia Real