De Olho no Mundo, por Ana Prestes

O conflito entre israelenses e palestinos preocupa o mundo e é o destaque das notas internacionais desta quinta-feira (13). A cientista política Ana Prestes também comenta a situação na Colômbia, a negociação de dívidas da Argentina, o ataque hacker ao maior oleoduto nos EUA, o projeto de lei que extingue o licenciamento ambiental no Brasil, a realização (ou não) dos Jogos Olímpicos no Japão, a movimentação de Guaidó na Venezuela e a eleição da nova Assembleia Constituinte no Chile

Palestinos se esquivam de granadas lançadas no entorno da mesquita de Al-Aqsa | Foto: Ahmad Gharabli / AFP

A agressão israelense contra palestinos continua sendo uma grande preocupação em todo o mundo. Ontem (12) houve reunião do Conselho de Segurança da ONU, mas a delegação dos EUA bloqueou a aprovação de uma resolução que pedia o fim das hostilidades. As investidas do governo Netanyahu começaram no final de semana com o impedimento aos árabes de Jerusalém oriental de realizarem as atividades de celebração do dia de Al-Quds (Jerusalém) que marca o fim do Ramadã na esplanada das mesquitas, nas proximidades da mesquita de Al-Aqsa, e o desalojamento forçado de famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah. Houve reação dos palestinos na Faixa de Gaza, comandados pelo Hamas, com disparos de foguetes em direção ao lado israelense. O Hamas já havia se pronunciado ao dizer que “não há linha vermelha se Al-Aqsa for violada”. Há notícias de 7 israelenses mortos e 80 feridos. A contra-ofensiva israelense foi com bombardeios que já deixaram 84 mortos, sendo 17 crianças, e 480 feridos, segundo dados do Ministério da Saúde da Palestina divulgados pela Aljazeera. Um prédio de 13 andares foi derrubado por bombas lançadas dos aviões israelenses sobre a Faixa de Gaza. Várias companhias aéreas dos EUA e da Europa interromperam seus voos para Tel Aviv. O governo israelense, comandado por Benjamin Netanyahu insiste que Jerusalém seja reconhecida apenas como a capital do Estado judaico e isso tem trazido reações por parte de árabes não palestinos residentes em Jerusalém. Neste momento Gaza está absolutamente cercada e bloqueada e é iminente o esgotamento de alimentos e combustível. Uma delegação do governo do Egito teve conversações com a direção do Hamas e neste momento está em Israel na tentativa de mediação de um cessar-fogo. O chanceler do Egito, Sameh Shoukry, e o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, já se pronunciaram pedindo que Israel pare com os ataques a Gaza. Lavrov também propôs uma reunião entre EUA, União Europeia, Rússia e Nações Unidas para uma mediação. A Palestina teria eleições no próximo dia 22 de maio, como já comentamos aqui nas Notas, mas provavelmente serão adiadas.

Novas marchas ocorreram ontem (12) na Colômbia, convocadas pelo comitê nacional da paralisação. A convocação foi feita após o fracasso das negociações com o governo Duque na última segunda (10), que contou com a presença de representantes da ONU e da Igreja Católica. Segundo um dirigente sindical que participou da reunião, o governo não cedeu em nenhum pedido de desmilitarização dos pontos de protestos. A situação ficou ainda mais tensa com a comoção que tomou o país em torno da confirmação da morte de Lucas Villa Vásquez, de 37 anos, também na última segunda-feira (10). Lucas havia recebido oito disparos durante uma manifestação do dia 5 de maio em Pereira, no estado de Risaralda. A Esmad, que é uma força policial específica “anti-distúrbios” da Polícia Nacional colombiana, voltou a reprimir violentamente os protestos na Praça Bolívar em Bogotá, capital do país. Mobilizações ocorreram também em Medellín, Cali, Bucaramanga, Barranquilla, Pereira, Yopal, Cartagena, Neiva, Putumayo e outras cidades espalhadas pelo país. Os protestos pedem renda básica de um salário mínimo para as famílias mais vulneráveis à pandemia, retirada do projeto de Lei da Saúde, defesa da produção nacional e fim da repressão às manifestações. Não há consenso sobre o número de mortes fruto dos ataques do governo às manifestações desde 28 de abril. O governo, através de sua ouvidoria de direitos humanos, admite 26 mortes, a organização Human Rights Watch fala em 38 óbitos e o Instituto Indepaz relata que 47 pessoas foram assassinadas.

Homenagem a Lucas Villa, baleado e morto em manifestação | Foto: Gustavo Torrijos

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, terminou uma viagem à Europa para buscar apoios ao seu governo no processo de negociação das dívidas que seu país herdou após a passagem do governo Macri com o FMI (US $45 bilhões) e o Clube de Paris (US $2,4 bilhões). Ele passou por Lisboa, onde recebeu apoio do governo português. Esteve na Espanha, onde se reuniu com o rei Felipe VI e com o premiê Pedro Sánchez, de quem também recebeu apoio. Inclusive, Sánchez deve fazer uma visita pessoal à Argentina nos dias 8 e 9 de junho. Depois da Espanha, Fernández foi a Paris, onde se reuniu com Macron e a Roma, onde foi recebido pelo governo e pelo Papa Francisco. Por onde passou, Fernández também pediu apoio para a quebra das patentes das vacinas contra o coronavírus como forma de combater a pandemia de modo mais eficiente.

Alberto Fernández, da Argentina, e Emmanuel Macron, da França, com suas mulheres em Paris em 12 de maio de 2021 | Foto: Divulgação/Governo da Argentina

Nos EUA, durante o último final de semana, um ataque de hackers interditou o maior oleoduto do país, que transporta mais de 2,5 milhões de barris de óleo por dia, e roubou mais de 100 GB de informações. Diante da situação, foi necessária a declaração de estado de emergência em 17 Estados da costa leste. A emergência permite o transporte de combustíveis por via rodoviária sem restrições de horários. Enquanto a empresa controladora do oleoduto, Colonial, tenta reabrir suas operações, o governo Biden tem se concentrado em encontrar os responsáveis pelo ataque e a Rússia já foi citada. Ontem (11) a embaixada da Rússia nos EUA se pronunciou e negou qualquer participação no ataque virtual.

Ontem (12) a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou o PL 3729/2004 que praticamente extingue o licenciamento ambiental no Brasil. A aprovação já ressoou pelo mundo e pode prejudicar ainda mais a imagem que se tem do país no exterior como um “pária ambiental”. Se virar lei, o projeto pode impactar muito nas negociações já frágeis do Acordo Mercosul-União Europeia. Na prática, o projeto cria uma situação de insegurança jurídica, pois deixará de haver um parâmetro nacional para as legislações estaduais nos 27 Estados da federação.

Embora o COI faça cara de paisagem, as autoridades médicas do Japão estão cada vez mais contundentes na linha de rejeição à realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. Um grande sindicato médico escreveu ao governo japonês, segundo divulgação da imprensa: “nós nos opomos com força à disputa dos Jogos de Tóquio em um momento em que as pessoas em todo o mundo lutam contra o novo coronavírus”. Os médicos consideram “impossível disputar os Jogos de forma segura durante a pandemia”. O maior temor é quanto às novas variantes que podem chegar ao país junto com os atletas e suas equipes. Faltam 10 semanas para a abertura dos Jogos.

Foto: Issei Kato/Reuters

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se pronunciou sobre as investidas de Juan Guaidó dos últimos dias de demonstrar busca de diálogo com o governo. Nas palavras de Maduro, “se ele quer (Guaidó) se incorporar aos diálogos que já estão em curso, desenvolvendo-se em todos os temas, bem vindo e que se incorpore aos diálogos que já existem”. A tentativa de diálogo se dá no âmbito da convocação de eleições pelo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano. Serão reuniões regionais e municipais conjuntas, para eleger 23 governadores, 335 prefeitos, assim como deputados regionais e vereadores para compor as Câmaras legislativas.

O Chile se prepara para ir às urnas no final de semana. Para além dos 155 representantes que vão compor a nova Assembleia Constituinte, serão eleitos prefeitos, vereadores e pela primeira vez governadores regionais. Esse cargo de governador substituirá os “intendentes” que eram nomeados pelo presidente da República. Serão eleitos 16 governadores que serão a principal autoridade nas 16 regiões do país por um mandato de 4 anos, podendo ser reeleitos apenas uma vez. O segundo turno, para as regiões e municípios que não definirem a eleição no primeiro turno será no dia 13 de junho. Apesar da eleição direta para governador, o governo central manterá a indicação de um “delegado do governo” para cada região. Quanto aos constituintes, esta será a primeira vez em todo o mundo que se realiza uma eleição em que tanto as chapas como os eleitos terão paridade de gênero. Se dois homens forem os mais votados, a lista correrá até a mulher com mais votos.

Errata: nas notas do dia 10/05, onde se lê Al-Quds, na verdade deveria estar Al-Aqsa.

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