China reduz previsão de insumos para Butantan

Dimas Covas, diretor do instituto que produz a Coronavac, atribuiu dificuldades a ataques de Bolsonaro e aliados ao país asiático.

Fábrica da vacina Coronavac em São Paulo. Foto: Governo do Estado de Sāo Paulo

A China restringiu a liberação de insumos para Coronavac após as declarações de Jair Bolsonaro, que insinuou que a China pode ter criado o coronavírus em laboratório e o mundo poderia estar vivendo uma “guerra química”. O presidente não disse o nome do país asiático, mas questionou: “Qual o país que mais cresceu o seu PIB?”, sugerindo que algum governo lucrou com a pandemia.

Segundo Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, responsável pela produção da Coronavac, a próxima liberação de insumos teve a data de autorização adiada do dia 10 para o dia 13. O volume inicial previsto, de 6 mil litros, foi reduzido para 2 mil litros. Para Covas, as mudanças não foram determinadas pela Sinovac, mas por autoridades chinesas.

“Todas as declarações neste sentido têm repercussão. Nós já tivemos um grande problema no começo do ano e estamos enfrentando de novo esse problema. Embora a embaixada da China no Brasil venha dizendo que não há esse tipo de problema, mas a nossa sensação de quem está na ponta é que existe dificuldade”, afirmou o diretor do Instituto Butantan.

Ele acrescentou que, se faltarem insumos, Bolsonaro deve ser responsabilizado. “Pode faltar [insumos]? Pode faltar. E aí nós temos que debitar isso principalmente ao nosso governo federal que tem remado contra”, disse.

O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), também voltou a se manifestar sobre o assunto. Ontem (5) Pinato divulgou uma nota dura, em que afirmava que Bolsonaro podia ter “grave doença mental” e sugeria a “interdição civil” do presidente.

Nesta quinta-feira (6), o deputado disse ao blog da jornalista Denise Rothenburg, do Correio Braziliense, que o país caminha para ter problemas com os chineses, tanto na questão dos insumos para produção de vacina quanto em relação ao agronegócio.

“Quem dá o rumo é o presidente da República. Não vejo essa mudança [de comportamento dele]. E, se não mudar, não tem solução. Se faltar vacina e insumo, Bolsonaro precisa ser afastado imediatamente.Não tem conversa”, declarou Pinato.

O parlamentar disse ao blog que, em outras ocasiões, quando Bolsonaro disse que não compraria a vacina chinesa, ou quando o deputado Eduardo Bolsonaro atacou a China nas redes sociais, ajudou a reverter o mal-estar fazendo a ponte com os chineses.

“Agora, não tenho mais cara para fazer esse papel. Bolsonaro já trocou dois, três ministros para melhorar essa relação e, agora, vai lá, ele mesmo, e faz insinuações de guerra química. Vai ser difícil renovar contratos no futuro, caso Bolsonaro não mude o discurso”, afirmou.

Pinato é um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que alinhou-se ao governo Bolsonaro após receber apoio do Planalto para disputar a presidência da Casa. Além de amigo pessoal de Lira, presidente da Frente Brasil-China foi um dos coordenadores de sua campanha.

Com informações do Valor Econômico e Correio Braziliense

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