Bolsonaro ignorava alerta sobre gravidade da Covid-19, revela Mandetta

O presidente afirmava entender os alertas, mas dias depois voltava atrás. “Dizia ter outras fontes”, revelou Mandetta, sugerindo que o conselheiro era o deputado negacionista Osmar Terra (MDB-RS), que também foi ex-ministro de Bolsonaro

Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta depõe na CPI (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Em depoimento à CPI da Covid do Senado, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que alertava Bolsonaro sobre a gravidade da pandemia do coronavírus ao país, informações prontamente entendidas, mas “dois ou três dias depois” o presidente afirmava que não entendia. “Dizia ter outras fontes”, revelou Mandetta, sugerindo que o conselheiro era o deputado negacionista Osmar Terra (MDB-RS), que também foi ex-ministro de Bolsonaro.

Mandetta, que acompanhou o surgimento da doença no país, é o primeiro a depor nesta terça-feira (4) no colegiado. Em resposta ao relator Renan Calheiros (MDB-AL), ele explicou que fazia os alertas a Bolsonaro durante reunião com outros ministros. “Todas as vezes que a gente explicava, às vezes no Conselho de Ministros, e eu não era uma voz solitária, o presidente compreendia. Dizia: dê seguimento. Mas passavam dois, três dias, ele voltava pra situação de quem não tinha entendido”, disse.

Sobre a resistência de Bolsonaro ao distanciamento social, o ex-ministro diz que entregou em mãos a Bolsonaro uma carta em 28 de março. Ameaçou lê-la, mas um senador governista afirmou que não era necessário. O relator pediu uma cópia para a CPI.

Nela, Mandetta detalhava a situação ao presidente, inclusive com modelos de previsões de mortes até o fim de 2020. Segundo ele, com “disciplina oriental” o cenário era de 30 mil a 180 mil óbitos. Sem medidas eficazes, acabou que o país registrou 195 mil mortes.

Ele também respondeu sobre as críticas que recebe de Bolsonaro sobre ter orientado as pessoas a não procurarem o SUS. “É uma guerra de narrativa. Orientações foram para dar entrada pelo sistema de saúde…transmissão comunitária só foi verificada em 24 de março. Em janeiro e fevereiro havia um caso no país, e pessoas em pânico”, justificou.

Mais uma vez, o início da CPI foi marcado pela tentativa de obstrução da reunião por parte da bancada governistas que defendia intercalar depoimentos com os requerimentos apresentados por eles. A manobra atrasou a reunião em uma hora. O relator Renan Calheiros disse que a comissão não era do governo nem da oposição e passou a questionar Mandetta.

Cloroquina

O relator perguntou se o presidente não apresentou nenhuma solução, nenhuma sugestão em função das informações. “Eu me lembro de o presidente sempre questionar a questão ligada à cloroquina, como a válvula de tratamento precoce, embora sem evidências científicas; eu me lembro de o presidente, em algumas vezes, falar que ele adotaria o chamado confinamento vertical, que era também algo que a gente não recomendava”, respondeu.

Segundo ele, havia sinais de que Bolsonaro seguia orientações de outras fontes. “Do Ministério da Saúde nunca houve a recomendação de coisas que não fossem da cartilha da Organização Mundial da Saúde, dessas estruturas todas. Era o que a gente tinha, não por sermos donos da verdade; não, pelo contrário, nós éramos donos da dúvida. Eu torcia muito para que aquelas teorias: ´Ah, o vírus não vai chegar no Brasil, não vai ter!´ (…) Agora, se eu adotasse aquela teoria e chegasse, teria sido uma carnificina, não é?”

Autor