Russos vão processar a Anvisa por “difamar” vacina sem testagem

Sputnik alega que a Anvisa espalhou informações falsas sobre o imunizante. Anvisa baseia-se em suposto documento russo que não pode divulgar. Impasse continua.

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Os desenvolvedores da vacina contra a covid-19, Sputnik V, anunciaram processo contra a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por difamação intencional. De acordo com o laboratório, a agência fez declarações incorretas e enganosas sem testar o imunizante, além de ter desconsiderado um documento oficial que foi encaminhado.

“Após a admissão do regulador brasileiro Anvisa de que não testou a vacina Sputnik V, a Sputnik V está iniciando um processo judicial de difamação no Brasil contra a Anvisa por espalhar informações falsas e imprecisas intencionalmente”, escreveu o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) nas redes sociais.

O RDIF anexa a reportagem da revista Superinteressante que afirma ter apurado com a agência sanitária que não houve testes de RCAs, apenas análise dos documentos enviados. Os russos, no entanto, garantem que a vacina não tem vírus replicante: “O Centro Gamaleya, que realiza um controle de qualidade rigoroso de todos os locais de produção da Sputnik V, confirmou que nenhum adenovírus competente para replicação (RCA) foi encontrado em qualquer um dos lotes de vacina Sputnik V que foram produzidos.”

A Anvisa cita documento em que, apesar dos guias internacionais estabelecerem que vírus replicantes não devem estar presentes nas vacinas, o Instituto Gamaleya, produtor da Sputnik V, definiu o limite de de 1×10(3) RCA por dose de 1×10(11) partículas virais, “o qual está consideravelmente acima dos limites de partículas em guia da agência americana FDA que trata de terapias gênicas de 1 RCA a cada 3×1010 partículas virais”.

O impasse, agora, está no fato da Anvisa dizer que recebeu um documento russo mencionando limites máximos de RCA, enquanto os russos dizem que não existe RCA nenhum. A Anvisa alega não poder divulgar o documento do Instituto Gamaleya, enquanto a imprensa aguarda resposta do laboratório sobre a existência do laudo mencionado.

Para os produtores da Sputnik V, a Anvisa desconsiderou um ofício emitido pelo Instituto Gamaleya sobre “nenhum RCA estar presente, mas apenas vetores não replicantes”. Avalia-se que a Anvisa tenha se baseado em documento sobre etapa anterior da vacina e não no laudo final.

Apenas Hungria, Sérvia e Eslováquia, na Europa, aprovaram a vacina russa. Maioria dos países são da Ásia e África. Nas Américas, a vacina imuniza na Argentina, Bolívia, Paraguai, Venezuela, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Nicarágua e Panamá.

Rejeição brasileira

Os cinco diretores da Anvisa rejeitaram de forma unânime a importação e o uso da vacina russa contra a covid-19 no Brasil, colocando em suspeição a aceitação de outras mais de 60 agências sanitárias internacionais. A vacina está disponível para mais de 3 bilhões de pessoas, foi testada com resultados positivos por publicações científicas como a Lancet e tem apresentado resultados superiores a outras vacinas aplicadas.

A decisão foi tomada na segunda-feira (26). Os diretores haviam se reunido de forma extraordinária para avaliar os pedidos de nove estados para a aquisição dos imunizantes.

O gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, argumentou que os lotes analisados mostraram a presença de adenovírus com capacidade de reprodução no composto da vacina, o que traz riscos à saúde. Esta afirmação causou reação internacional com os russos acusando disseminação de fake news contra a vacina.

O diretor do fundo russo, Kirill Dmitriev, cita em entrevistas coletivas o relatório do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos publicado três dias antes da posse de Joe Biden, mostrado por reportagem da Folha de S. Paulo, que declarou que o adido de saúde americano “persuadiu o Brasil a rejeitar a vacina russa”. “A intervenção externa é um dos elementos desse comportamento [da Anvisa]”, disse Dmitriev sobre o relatório.

O Fundo Russo já denunciou em várias entrevistas coletivas uma sabotagem de governos e mídia ocidental à Sputnik V, por motivos políticos. Recentemente, a própria Alemanha, que encomendou 30 milhões de doses, admitiu que preferia alinhar-se com as vacinas ocidentais, devido a problemas diplomáticos relativos à Ucrânia, Síria e o envenenamento do opositor do governo russo, Alexey Navalny.

A vacina também é alvo de fake news e até distribuição falsificada apreendida no México. O ocidente vai cedendo gradualmente aos russos, no entanto, conforme a vacinação permanece lenta e tumultuada.

Com informações da Superinteressante e RDIF

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