Deputados condenam novo ataque bolsonarista à China

Desesperado por insumos e vacinas da China, em meio à pandemia, país convive com novos ataques do ministro da Economia ao país asiático.

Foto: Marcos Corrêa/PR

Em reunião, ministro da Economia diz que “chinês inventou o vírus” e cria novo embate diplomático. Declaração de Guedes pode interferir, por exemplo, na importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da China necessário para a produção de doses da vacina Coronavac no Brasil. No mesmo encontro, ministro da Casa Civil afirmou que se vacinou escondido.

A pandemia segue avançando no Brasil. O país já soma quase 400 mil vítimas da Covid-19 e tem um ritmo lento de vacinação graças à omissão, negligência e morosidade do governo Bolsonaro na aquisição de imunizantes. Somado a esses fatores, o governo protagoniza desde o início da pandemia uma série de embates a um dos principais fornecedores de insumos para uma das vacinas utilizadas no país: a China.

Esta semana, um vídeo divulgado de uma reunião do Conselho de Saúde Suplementar deu início a uma nova crise, num momento que o Brasil precisa adquirir insumos para dar continuidade à produção de vacinas e imunizar a população contra a Covid-19. O protagonista da vez foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que disse que o “chinês inventou o vírus” e que a vacina da Pfizer é mais eficiente do que a chinesa Coronavac, produzida em parceria com o Instituto Butantan.

“O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem 100 anos de investimento em pesquisa”, disse Guedes, durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar realizada, de forma presencial, em Brasília, na terça-feira (27). Guedes ainda cravou que a vacina da Pfizer “é melhor que as outras”.

A declaração foi repudiada por parlamentares de diversos partidos e também gerou críticas da embaixada chinesa no país. Guedes chegou a se desculpar, mas o impacto das declarações ainda será sentido pelos brasileiros.

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), condenou o comportamento xenófobo e antidiplomático que tem sido recorrente no governo de Jair Bolsonaro com relação à China e o negacionismo que impera entre o presidente e seus ministros e auxiliares, em especial com relação à vacinação contra a Covid-19.

Para Renildo, as declarações de ministros do governo Bolsonaro “indicam falta de apreço pela vacinação”. “Com a saída de Ernesto Araújo do governo Bolsonaro, Paulo Guedes parece ter assumido a função de criar conflitos com a China. É inaceitável que o ministro da Economia acuse o principal parceiro comercial brasileiro de ter criado o coronavírus. A declaração prejudica a cooperação entre os dois países e o intercâmbio de tecnologia”, destacou.

Em resposta a Guedes, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, lembrou que “a China é o principal fornecedor das vacinas e os insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo país e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil”.

O vice-líder da bancada, deputado Orlando Silva (SP) afirmou ainda que a falta de insumos para vacinas no Brasil é fruto também da inaptidão diplomática do governo Bolsonaro. “O Brasil tem falta de vacinas porque o governo não comprou a tempo e falta de insumos porque Bolsonaro pratica uma política externa antidiplomática. Quem espera racionalidade dessa turma é bom deitar. Paulo Guedes disse que a China “inventou” o vírus. Aí vai mendigar IFA”, criticou o parlamentar em referência ao ingrediente farmacêutico ativo (IFA), necessário para a produção da vacina pelo Butantan.

Alguns estados, como o Amazonas, já precisaram suspender novamente a primeira dose da vacina por falta de previsão do imunizante. A orientação foi dada pelo Ministério da Saúde. E esta não é a primeira vez que estados brasileiros suspendem a vacinação da população.

“Xenofobia no governo Bolsonaro se banalizou? Nossa relação internacional já está fragilizada, e falas como essa, além de serem absurdas, só dificultam os processos, como a aquisição de insumos para a produção de vacinas, por exemplo. Nosso respeito à China!”, destacou o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).

Tomou vacina escondido

Na mesma reunião, outra declaração chamou a atenção dos parlamentares. O ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que tomou a vacina contra a Covid-19 escondido da imprensa por orientação do Planalto.

“Tomei escondido, né, porque a orientação era para não criar caso, mas vazou. Eu não tenho vergonha, não. Tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. E se a ciência está dizendo que é a vacina, como eu posso me contrapor?”, disse Ramos.

A vice-líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), rebateu a declaração de Ramos em suas redes sociais. “Não tenha vergonha de tomar vacina, ministro. A vergonha é compor o pior e mais entreguista governo que o Brasil já teve!”, declarou.

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros, chamou atenção ainda ao trecho em que Ramos fala que Bolsonaro se nega a tomar a vacina.

“O próprio presidente da República se nega a tomar a vacina. Ramos disse que está tentando convencer Bolsonaro a se vacinar para não “perder o presidente para um vírus desses”. São declarações que mostram a falta de apreço pela vacinação. É mais um elemento para as investigações da CPI da Covid-19 no Senado. É urgente identificarmos onde há falhas e propor mudanças na gestão da maior crise sanitária deste século”, destacou.

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