Elegia a Gilmar de Carvalho

Gilmar de Carvalho recolhia nas suas andanças pelas quebradas do sertão as preciosidades vistas e não valorizadas pelos doutos intelectuais

Foto: Jarbas Oliveira

Gilmar de Carvalho o professor, escritor e pesquisador era um homem “Manso e Humilde de coração”. (O Apóstolo Paulo descreve na Bíblia sagrada, Mansidão como um Dom do Espírito).

Gilmar de Carvalho carregava em vida um embornal inseparável, repleto de objetos surpresa, bem ao gosto do sertanejo nordestino.

Distribuía com os amigos um livro, um artigo, uma referência rara encontrada num arquivo antigo… Socializava os saberes!

Gilmar de Carvalho recolhia nas suas andanças pelas quebradas do sertão as preciosidades vistas e não valorizadas pelos doutos intelectuais.

O que será que Gilmar de Carvalho leva agora no seu embornal?

Na entrada do Céu São Pedro lhe escancara a Porta Celestial.

Sem pressa Gilmar oferece ao porteiro uma coleção de cordéis. Do seu jeito bonachão o Santo lhe sorri e indica o caminho já de olho na leitura.

Os Anjos mirins o rodeiam e para estes Gilmar oferece os chapéus enfeitados do Reisado. Em seguida os Serafins recebem reco-reco e pandeiros trançados de fitas de todas as cores.

Aos Querubins distribui palha de milho e de bananeira, fibra de coco e muitas quengas (pra ritmar a folia), cipó, juta, cera de abelha, palhas de carnaúba, pedras diversas e areia colorida. O propósito é repaginar o Céu com as Alegrias Nordestinas.

Gilmar de Carvalho caminha agora pela Alameda Central do Paraíso passos firmes, calmo, olhar atento. Carrega nas mãos espalmadas um embrulho amarrado em cordão cru.

Avança com a simplicidade que o marcou na vida terrena. Para. Abre um sorriso e entrega à Virgem Maria, (aquela mesma que salvou Joao Grilo das garras do Inditoso) a Nossa Senhora, a Misericordiosa, uma imensa e alva toalha de labirinto tecida pelos dedos calejados das rendeiras cearenses.

Salve Gilmar de Carvalho!

PS: E que fique registrado o meu protesto:

A gente devia morrer de morte morrida e não de morte matada pela incúria de autoridades várias que têm por obrigação de usar a Ciência para proteger o povo.

Gilmar é mais uma vítima e seu envelhecimento saudável e sua ainda frutífera prestimosidade à esta geração foi abortada.”