“Se o governo intervier na CPI, o tiro sairá pela culatra”, diz Renan Calheiros

O senador emedebista, que deverá ser o relator da CPI da Covid, afirma que o governo tem conduzido mal o combate à pandemia.

Considerado ferrenho opositor ao governo Bolsonaro, Renan Calheiros foi escolhido relator da CPI -Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

“Se o governo intervier na CPI, o tiro vai sair pela culatra. Ele próprio acaba ajudando a politizar a investigação. Piora as coisas. Com isso, todos os governos perdem. E acho que esse governo precisa encontrar uma maneira de conviver com essa investigação. Porque esse é um procedimento constitucional. Não há como não fazê-lo”, declarou Renan Calheiros, ex-presidente do Senado, em entrevista ao Estadão.

“A sociedade cobra isso de todos nós. E a CPI é um instrumento sagrado da minoria. Eu adverti o presidente do Senado várias vezes que ela seria instalada. Porque só três pré-requisitos são analisados: se tem fato determinado, se tem número mínimo de assinaturas e se tem prazo para investigação. Cumpriu tudo”, completou Renan.

Para o senador, esta CPI é “muito importante”. “Terá uma composição qualificada. E o seu trabalho será facilitado porque muita coisa que ela investigará é pública”, disse.

Segundo informação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento da CPI da Covid-19, já há acordo para que Renan Calheiros seja o relator da comissão.

“As pessoas abordam a gente na rua e perguntam assim: ‘Você acha que, se o presidente tivesse acertado a mão, quantas mortes o País poderia ter evitado?’ A gente não faz ideia. A CPI responderá essas coisas inevitavelmente”, completou Renan.

O senador assinalou que não tem “nenhuma dúvida” de que o governo Bolsonaro continuará boicotando a CPI. “Porque em todos os momentos esse assunto foi mal conduzido pelo governo. E isso, inclusive, cobrou um preço altíssimo do próprio presidente do Senado Federal. Acho que o governo continuará errando, mas ele tem características, a essa altura, bastante conhecidas”, observou.

Sobre a investigação contra governadores e prefeitos, o ex-presidente do Senado afirmou que não se “pode fazer uma Comissão Parlamentar de Inquisição contra governadores ou prefeitos ou contra o presidente da República. Tem de fazer a investigação”.

Ele informou que há “unanimidade na CPI com relação à necessidade, quando houver crime conexo, de investigar Estados e municípios. Mas apenas nessa condição”.

Renan destacou que está convencido de que a CPI da Covid-19 é legítima e acertada.

“Ela tem fatos determinados a investigar e muitos deles são públicos. Confessados. O que, disse e repito, facilitará a investigação”, declarou.

O senador disse não acreditar que o governo impeça algumas convocações para depoimentos, como a do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

“Acho que não. Porque a CPI vai ter que, em primeiro lugar, estabelecer um plano de investigação coletivo. Não é de ninguém. E ela própria definirá os seus limites”, opinou.

Renan Calheiros comentou a queixa de Bolsonaro de que a Comissão irá se transformar em palanque eleitoral para 2022 e será dirigida contra ele.  

Segundo Renan, ele (Bolsonaro) mesmo “pode colaborar para que isso aconteça”. “Na medida em que queira ameaçar, dificultar os trabalhos, evitar que alguém seja convocado. Isso tudo pode agilizar essa politização que eles tanto temem”.

“Acho que já erraram bastante na instalação. Porque deveríamos ter essa Comissão instalada em fevereiro. Estamos na metade de abril. E até agora não a instalamos. Tudo isso significa dizer que a investigação vai sendo levada para a proximidade da eleição. Se isso ajuda a politizar, eu não sei. Só sei que na medida em que o governo quer interferir na investigação, ajudará, com certeza, a politizar sim”, respondeu Renan.

Fonte: Hora do Povo